Um médico das Caldas na Grande Guerra

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Gazeta das Caldas
Fernando da Silva Correia. Imagens enviadas à família.
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Já várias vezes nos servimos da correspondência reunida pelo Doutor Fernando da Silva Correia para aludir à sua participação na Grande Guerra (1914-1918) e as próximas palavras não serão excepção. Na verdade, esta é uma fonte importantíssima (e nem por isso convenientemente estudada) para conhecer a primeira metade do século XX, quando esta troca de missivas era o principal meio de comunicação.
Em contexto de guerra, a correspondência tornava-se a única forma dos militares receberem notícias do seu país de origem e dos seus entes queridos. Já aqui falámos, em especial, da correspondência que era trocada com as madrinhas de guerra. No entanto, hoje abordaremos a que foi remetida pelo Dr. Joaquim Manuel Correia (já referida no artigo anterior desta rubrica), pai de Fernando da Silva Correia. No seu arquivo existente na sede do PH encontrámos 47 cartas enviadas da sua casa na Rua Rafael Bordalo Pinheiro em Caldas da Rainha para França.
Há cem anos, até à data desta crónica, o jovem médico teria recebido 2 bilhetes-postais do seu pai: um de 28 de Março de 1918, em que o ilustre sabugalense agradece ao filho a sua “carta de felicitações”, uma vez que tinha completado o sexagésimo aniversário no dia 21 desse mês e outro de 14 de Junho, em que Joaquim Manuel Correia descreve a situação da família, dando os seguintes pormenores:
“Aqui estamos sob a ação de grande calor, o que está prejudicando muito os milhos”.
“O peor é a guerra, (…) Por cá tudo bem. (…) O regimento só tem falta de soldados, porque oficiais e sargentos tem com fartura.”
“Da Ruvina [Sabugal] dizem ter recebido noticias tuas. A tia Miquelina esteve doente, mas está melhor. Doente tem estado o Dr. M. Ferrari, mas simples gripe. (…) Saudades de todos”.
Como podemos perceber através deste excerto, o pai informava-o dos acontecimentos mais marcantes na vila caldense ou respeitantes aos restantes membros da família. Neste caso, é-nos referida a situação do Regimento de Infantaria 5, à data instalado nos Pavilhões do Parque, assim como a gripe do Dr. Manuel de Mello Ferrari, mais conhecido por ter ocupado o lugar de director do Hospital Rainha D. Leonor e que, num futuro próximo, seria sogro de Fernando da Silva Correia.
Provavelmente outras cartas foram remetidas por Joaquim Manuel Correia durante estes quase seis meses em que o seu filho esteve na França, no entanto, estas não chegaram até nós. É de notar que em muitas cartas são utilizados códigos para referir os locais por onde os militares passavam e em todas elas existem vestígios da censura que lhes era aplicada: através de carimbos ou mesmo recortando partes da mensagem.

Joana Beato Ribeiro

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