Francisco Rebelo dos Santos
Vice-presidente da Associação Portuguesa de Imprensa
Antigo presidente da Cooperativa Editorial Caldense (de 2019 a 2022)
Há um tempo que nos trouxe até aqui com quase um século de vida, mas ainda agora está a começar o futuro. Como sempre acontece, quando começamos uma etapa, são muitas as incertezas e avolumam-se as dúvidas. Mas, não estamos sós, há uma história que antecede o aqui e agora, feita com as vestes de cada tempo e o contributo de mulheres e homens que assumiram as Caldas da Rainha como terra-mãe.
Com os olhos no mundo, sem nunca esquecer o país, a Gazeta sempre fez das Caldas a sua pátria, conquistando a partir daí outros territórios. Foi bandeira e púlpito, exigência e protesto, família e casa. Ousadia e sonho.
A Gazeta das Caldas é reflexo do tempo e modo que bate à porta do quotidiano e faz a substância do acontecer, seja lá isso um pedaço de chão, ou uma alma que se sente. Amparados pelo trabalho de muitas gerações, quem na Gazeta faz o agora poderá interrogar-se: o que se segue? Atrevo-me a deixar uma pista: dias, meses e anos com novos desafios e exigências, balizados por um tempo sem tempo, alinhavado pela vertigem do instantâneo, com revoluções que não constam nos compêndios e trazem novos alfabetos.
Ainda ontem era mais um ano de uma história sólida a caminho do centenário e hoje já estamos debruçados à janela do novo século de vida, cheios de medo e incerteza, mas com muitos sonhos, experimentando uma pós-modernidade líquida que se esquiva das verdades seguras. Se calhar sempre assim foi. Quando tomamos o pulso a um jornal que vai entrar no 100º ano de publicação somos convidados a olhar para um percurso marcado por ciclos, com inúmeros e marcantes desafios, onde a hierarquia de ameaças e limitações não é uma escada fácil de percorrer, apresentando ao longo da sua história momentos tão ou mais decisivos como os dias disruptivos que atravessamos.
Nascida num tempo em que ler e escrever era um privilégio dos mais afortunados, a Gazeta das Caldas sempre foi um sinal dos tempos. É património, história, orgulho e memória, um pilar que permite sustentar o farol do presente e iluminar os amanhãs. A Gazeta das Caldas está em constante transformação, mas ontem como hoje tem um compromisso com a verdade, através de um jornalismo ético, que se cumpre em valores e princípios, independente de todos os poderes, sem preferências, nem olhares privilegiados, contribuindo para uma sociedade mais justa, onde todos têm lugar. Enquanto essa espinha dorsal for inquebrável o ciclo de vida será eterno, na medida em que é indispensável enquanto elemento constituinte da democracia e razão de ser de um jornal. Está aqui o futuro inteiro que vai levar a Gazeta a afirmar-se por um tempo sem fim. ■


































