Uma história de proveito e exemplo

0
522

Está em curso um vivo debate sobre a evolução dos cuidados públicos de saúde na região, até agora focado, sobretudo, na localização anunciada para um novo hospital do Oeste. Têm «comparecido» alguns bons argumentos e fundamentação técnica de qualidade, como nem sempre acontece.
Para debates pode-se contribuir com ideias. Mas a partir de certa altura da vida também se pode contribuir com histórias. Sigo um amigo que diz que há que saber perceber quando se atinge o ponto em que é mais indicado contar uma história do que esgrimir uma ideia. A bom entendedor…
Era uma vez uma instituição emblemática – refiro-me à Polícia Judiciária – com instalações centrais que iam ficando muitíssimo insuficientes e antiquadas para o desempenho da sua missão. Já lá vão mais de duas décadas, uma ministra empreendedora e o governo a que pertencia abalançaram-se à construção de novas e modernas instalações… optando por retirá-la de Lisboa e colocando-a num concelho ao lado. A decisão gerou grande controvérsia, bons e maus argumentos vieram a lume, mas a obra lá se iniciou e avançou até a ritmo superior ao usual. Eis senão quando é interposta uma providência cautelar com fundamento em violação de regras aplicáveis à porção de território em causa, porventura subvalorizadas pelo governo de então e pela câmara contemplada com a nova localização. Com surpresa para muitos, o tribunal determinou o embargo da obra: as decisões de primeira e segunda instância, não obstante o talento investido pelo superescritório de direito administrativo que patrocinava o Estado, consolidaram o impedimento.
Enquanto o processo corria, a ministra da iniciativa cessou funções. Um novo primeiro-ministro escolheu um outro governante, que não ocuparia por muito tempo o lugar. A um terceiro governo caberia o encargo de resolver o problema criado, negociando e cumprindo os pagamentos devidos ao empreiteiro e, sobretudo, a tarefa de reequacionar a escolha que aí levara. Adoptou-se então uma outra perspectiva: adquirir a uma outra instituição pública um grande espaço que ladeava as instalações em uso, conservando as vantagens associadas à anterior localização, e erguer aí uma solução inovadora que se combinasse com a manutenção em uso, com a necessária recuperação, das anteriores instalações. A onerosa aquisição foi consumada e iniciou-se de seguida um outro percurso construtivo na zona e concelho que antes se pretendia abandonar. Foi um caminho que envolveu ainda dois governos e se concluiu, com sucesso, alguns anos depois. O novo edifício foi inaugurado num dos primeiros meses de 2014. Pormenor pessoal: foi com gosto que aceitei o convite da ministra em exercício nessa altura para estar na cerimónia.
Está longe de ser, a alguns títulos, uma história exemplar, mas tem um princípio, um fim – e um resultado feliz. Pode resumir-se assim: primeiro, vários anos orientados para um outro concelho, numa opção expedita que acabou por se revelar infeliz. Depois um caminho noutra direcção que em alguns anos faria da nova opção uma realidade. Para afastar interpretações indevidas, faço questão de retirar a moral da história do grande Machado: «Caminante no hay camino, se hace camino al andar».