Uma Reflexão Sobre o Impacto do Turismo de Massas

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Teresa Leal
CEO da Teresa vai de Férias

À nossa volta, as várias cidades vão-se posicionando em relação ao turismo. Peniche e o surf, a Nazaré e as grandes ondas, Óbidos e os eventos, e um pouco mais longe, mas com impacto na região, Fátima e o turismo religioso. Esse posicionamento leva à identificação de um destino com um determinado produto turístico, direcionando a procura em relação à oferta.
Enquanto isso Caldas da Rainha, em relação ao turismo, procura ainda o seu caminho. É por isso mesmo a altura certa para refletir sobre o que queremos, ou não queremos para a cidade e sobre o impacto que as nossas escolhas terão no nosso dia a dia, porque se não o pensarmos de forma estruturada, poderemos ter de gastar demasiada energia para retificar o que não estiver a correr bem.
Estamos em agosto e apesar de a cidade estar com um fluxo intenso de pessoas e veículos, sentimo-nos tranquilos porque sabemos que em setembro tudo volta ao normal, no entanto, se não olharmos para a pressão da procura poderemos ter de gerir as suas consequências no futuro.
Turismo de massas é um segmento de turismo, com tendência para ser fortemente sazonal, que tem como uma das caraterísticas mais fortes o baixo custo, sendo que o seu crescimento, alimentado pelas companhias aéreas de baixo custo e pelas redes sociais, está a levar a uma pressão sobre o impacto que tem na vida das cidades, levando à tomada de medidas como a implementação de taxas aos visitantes, que embora tentadora porque são fontes de receita adicional, não estão a ter o resultado esperado.
O overtourism ou turismo de massas tem implicações na vida das populações e na qualidade das experiencias dos visitantes devido ao aumento do consumo, à subida dos preços, ao aumento da poluição, à perda da identidade da região, ao afastamento dos residentes levando ao abandono dos centros das cidades que se transformam em locais comerciais, que com o tempo começam a ser ocupados por cadeias internacionais, sobrelotação dos espaços que leva a maiores dificuldades para a regeneração natural do território, maior pressão nas infraestruturas que nem sempre estão preparadas para a procura, deterioração dos espaços, falta de mão de obra qualificada entre tantos outros sendo que não podemos deixar de refletir sobre o turismo irresponsável, ou seja, os comportamentos irresponsáveis dos visitantes que a desrespeitarem as regras e costumes locais, tem impacto negativo sobre a região.
Esta reflexão leva-nos a pensar em alternativas antes que seja tarde. O turismo sustentável é desenvolvido a pensar nos visitantes, mas também nas comunidades locais. Normalmente é pensado envolvendo todos, procurando reduzir a sazonalidade e criando condições para a manutenção do comercio tradicional. O destino turístico é construído a pensar na preservação da cultura local, no respeito pelo meio ambiente e pelas pessoas. Ou seja, é uma forma de turismo que pondera antecipadamente o impacto económico, social e ambiental, tendo em consideração as necessidades dos visitantes, mas também do meio ambiente e da comunidade local.
Com o forte crescimento da procura em toda a região Oeste, devido à proximidade a Lisboa e ao forte impacto que o turismo já tem na capital, é a altura de fazer uma reflexão, e tirar partido de forma estruturada, da pulverização do turismo que existe nas várias cidades ao nosso redor, criando uma oferta consolidada e que esteja de acordo com o que queremos para a nossa região. ■