Em dois anos de crónicas, foram quatro, aquelas em que falei de termalismo. E esta é uma temática fundamental, se percebermos a génese da cidade e do concelho que nos acolhe, a sua evolução e desenvolvimento e o quanto a atividade termal foi âncora do comércio tradicional, da Praça e do turismo. Após 16 anos de interrupções na sua atividade e mais 4 anos de encerramento total, nada mais foi como antes. A cidade e o concelho, perderam aquela âncora e com ela, grande parte da sua história e identidade.
No final de 2015, há um ano e meio, foi formalizada a concessão do complexo termal ao Município, embora a decisão já fosse publicamente conhecida muito antes.
A importância do termalismo no contexto histórico, social, turístico, económico e cultural, é de tal forma óbvia, que era expectável que as energias e recursos do Município, fossem canalizados para aquele fim. Até porque se diz que existem recursos financeiros bastante generosos, deixados do passado e reservados para o termalismo.
Quem conhece, sente e pensa a cidade e o concelho, sabe que esta, devia ter sido considerada a prioridade das prioridades.
De então para cá, há cerca de dois anos, foi formalizada a adesão de Caldas da Rainha à Associação Europeia das Cidades Históricas Termais (EHTTA) e à Associação das Termas de Portugal. Não temos termas, mas fazemos de conta que sim.
Também foram desenhados em passeios da cidade, logotipos alusivos às termas, indicando o percurso. Não temos termas, mas fazemos de conta que sim.
A azáfama publicitária, com anúncios e sistemáticas promessas de reabertura, são permanentes e empurram sempre para daqui a algum tempo, como se todos tivéssemos memória curta e os mais recentes e últimos anúncios, dizem que será no final de 2017 ou início de 2018, sim porque os anteriores prazos, já lá vão. A promessa de reabertura, é a prova de que não as temos, mas fazemos de conta que sim.
Para dar mais credibilidade, dão-se entrevistas sobre as termas que não existem e as suas virtudes terapêuticas, mas quem lê e não sabe, pensa mesmo que existem.
Também têm sido várias as viagens feitas em nome do termalismo, que não temos, mas faz de conta que sim.
Já tínhamos a história, agora temos o marketing. Termas é que não temos, mas isso, logo se vê.
Passemos então da fantasia à realidade.
Foi a 15 de Maio de 2016, faz exatamente um ano, que em cerimónia pública, com pompa e circunstância, foram adjudicadas as obras de substituição das canalizações, anunciadas e contratadas para se realizarem no espaço de três meses e no entanto, um ano já se passou. Não é admissível e não podia aceitar-se este desmazelo.
Quanto às obras de adaptação do Balneário Novo, onde se diz que vão funcionar as inalações e do edifício do próprio Hospital Termal, tudo vai estando por aí, como se estivéssemos a tratar uma qualquer questão de somenos importância. Era mais que tempo de ter estas obras prontas.
Também não se sabe qual o modelo de gestão e por quem vai ser protagonizado. Próprio de quem não sabe o que fazer.
Mas entretanto, para tornar mais credível esta estória de “faz de conta”, incluídas nas Festas da Cidade, temos por aí diversas atividades que ajudam a dar corpo à fantasia, nomeadamente a Assembleia Geral da EHTTA – Associação Europeia das Cidades Históricas Termais, as Jornadas da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, o Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica, entre outras. Quanto vai custar…, depois logo se vê.
Uma operação de marketing, promove um produto e impulsiona-o, mas não torna real uma coisa que não existe.
Era mais que tempo de tudo isto estar a funcionar, se o termalismo fosse considerado uma prioridade, mas não foi, nem é.
Resgatar o termalismo, exige antes de mais, querer, mas também arrojo, determinação e capacidade de decisão, que não existe.
Entretanto, vamos a uma das inúmeras festas que por aí vamos ter, onde se gastam os recursos financeiros e depois, logo se vê.