José Luiz de Almeida Silva
Está patente no CCC, desde sábado, uma excelente exposição dedicada aos 150 anos da vida longa, rica, recheada e também trágica da figura criada por Bordalo Pinheiro em 1875 e que marcou a história de Portugal neste período.
O responsável pela recolha e exibição desta história longa da principal figura da caricatura e cartoonismo nacional, conseguiu dar uma visão múltipla e bastante preenchida do que foi o Zé Povinho criada por Rafael e de todos os seus seguidores, provindos de todos os quadrantes, uma vez que o nosso Zé Povinho serviu para todos e a todos serviu.
E é essa a principal virtude daquela apresentação muito singular, bem como do catálogo que lhe está associada, e que permite a cada um de nós, numa verdadeira autocrítica, conhecer os nossos concidadãos e a nós próprios, naquilo que somos e o que fazemos, tendo como alter-ego aquela figura tão simplória, como arrogante, tão fina como grosseira, tem delicada como indelicada, tão progressista como reacionária, tão altruísta como cínica.
O verdadeiro Zé Povinho é aquele que vota à esquerda e à direita, que paga os impostos doridamente mas também admira como seu herói os que fogem aos impostos, o Zé é matreiro e ingénuo, queixa-se mas também é dissimulado, ou seja, é aquilo que o português tem de herói e de covarde, de sério e de mentiroso.Há sempre a possibilidade de escolher um lado do Zé Povinho e muitos ao longo deste século e meio o escolheram, algumas vezes como verdadeiro santo e exemplar, mas é desta contradição que todos nós temos vivido e temos construído este país, que naturalmente, podia ser mais cuidado e respeitador das regras e das normas, mas que tenta muitas vezes escapar-se a elas para atingir os seus fins mais interesseiros. Certamente será por isso que gostamos e valorizamos esta figura pitoresca que em todos cabe! E a exposição demonstra-o bem! Vale bem uma visita!