Saúde em Ponto Pequeno “Preso dos intestinos”

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Gazeta das Caldas

Falar de cocós é tabu na nossa sociedade, mas trata-se de um processo normal e importante para a saúde e bem-estar. Esta mensagem deve ser transmitida às nossas crianças.
Qual é o aspeto e a frequência normal?
Os hábitos intestinais variam consoante a idade e de criança para criança:
– Nos primeiros meses de vida, as fezes são líquidas ou pastosas e podem variar desde uma a cada mamada até a uma vez por semana. As crianças sob aleitamento materno geralmente têm uma frequência maior que as alimentadas por fórmulas lácteas.
– Com a diversificação alimentar as fezes vão-se tornando progressivamente mais moldadas, sólidas, e a partir dos dois anos, a criança tem habitualmente uma ou duas dejeções diárias, ou eventualmente de dois em dois dias.
Quando é que a criança está “presa”?
As crianças com obstipação, termo médico para a “prisão-de-ventre”, acumulam fezes numa quantidade ou tempo superior ao normal antes de terem dejeções. Isto pode causar um ou mais dos seguintes sintomas:
• Duas ou menos dejeções por semana;
• Fezes duras, por vezes causando pequenas fissuras (feridas) anais ou dejeções dolorosas.
• Fezes com formato de bolinhas ou fitas finas;
• Fezes muito abundantes que obstroem a sanita;
• Pequenas dejeções diarreicas e/ou episódios de incontinência fecal;
• É muitas vezes o motivo de dor abdominal e de diminuição do apetite.
Não se trata apenas do número de vezes que se tem dejeções, e mesmo crianças que fazem cocó todos os dias podem estar obstipadas. É, por isso, importante estar atento, vigiando os sinais e perguntando às crianças mais velhas.
O que causa a obstipação?
Apenas em 5% dos casos existe uma doença de base. Na grande maioria das crianças a obstipação deve-se a uma dieta pobre em fibras e líquidos, associada a comportamentos de retenção.
Com o tempo cria-se um ciclo vicioso: Fezes acumuladas “fezes duras “ dor na defecação “comportamento de retenção” mais fezes acumuladas….
Como se trata?
Se a sua criança tiver mais de 6 meses e estiver obstipado, sem ter feito cocó nos últimos dois dias ou com uma dor abdominal ligeira, pode experimentar durante 1-2 dias oferecer sumos de fruta 100% naturais (como a ameixa, pêra, ou maçã), diminua os produtos lácteos e garanta uma alimentação rica em fibras. Nos bebés, pode ser feita a estimulação ou, se necessário, a aplicação de pequenos clisteres adequados para a idade.

Se não houver dejeções, contacte o seu médico.
Se o seu filho/a tiver queixas recorrentes, fale com o seu médico pois pode ser necessário tratamento com laxantes e em alguns casos raros, realizar uma avaliação complementar. Se houver dor abdominal intensa ou presença de sangue nas fezes procure também ajuda médica.
Como prevenir?
– Uma dieta com aporte suficiente de fibras (frutas com casca, vegetais, legumes verdes e cereais integrais são ótimas fontes) e de líquidos não lácteos (cerca de 950 ml para maiores de um ano).
– Treinar o intestino a ser regular: a seguir a uma refeição sentar-se 5-10 minutos na sanita a tentar ter uma dejeção. Escolha o momento mais calmo e faça isto todos os dias.
– Desmistificar o medo do cóco: explicar que é normal e acontece com todos, pelo que não é preciso terem medo nem vergonha, inclusive na escola/infantário.

Zulmira Abdula, Susana Alexandre, Raquel Carreira e Catarina Gomes
Associação de Saúde Infantil de Caldas da Rainha