As novas baterias vão permitir percorrer distâncias maiores, com custos e tempos de recarga mais reduzidos

O ano de 2020 tem sido fértil no aumento da oferta dos construtores automóveis no segmento dos eléctricos. Os preços baixam e a autonomia aumenta com os progressos no desenvolvimento e com a concorrência. Mas uma verdadeira revolução pode ter lugar no próximo ano com a chegada de um novo tipo de baterias de iões de lítio com eletrólitos em estado sólido que reduzem o preço, aumentam a segurança, a autonomia e a durabilidade, uma tecnologia criada por uma cientista portuguesa: Helena Braga

A pandemia de covid-19 colocou o mundo em suspenso e o mercado automóvel não foi excepção. Os efeitos da paragem da economia ditou quebras acentuadas nas vendas. A diminuição do rendimento das famílias coloca reticências quanto a investimentos tão sérios como é a aquisição de um automóvel.
Contudo, há uma revolução que a pandemia não deverá ser capaz de travar: a massificação do automóvel eléctrico.
Ao longo dos últimos anos os construtores têm feito investimentos avultados para desenvolver tecnologias que respondam à crescente necessidade de diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. O ano de 2020 já era apontado como um ano de mudança. Ao mercado chegaram já este ano várias propostas, inclusivamente para o segmento B, o mais relevante no mercado nacional, que vêm democratizar o acesso aos eléctricos.
Os novos modelos, que são já transversais à generalidade das marcas, ainda têm, porém, preços elevados e aos quais a maioria dos consumidores não consegue ainda chegar, pelo que não se pode ainda falar em massificação da tecnologia.
Contudo, isso é algo que poderá estar para mudar em breve e o fim da pandemia – que se estima para meados do próximo ano – poderá marcar igualmente esse virar de página para o mercado automóvel.

NOVA GERAÇÃO DE BATERIAS NA BASE DA REVOLUÇÃO

Um dos pontos de viragem para a tecnologia eléctrica será uma nova geração de baterias chamadas de estado sólido, com um conjunto de melhorias face à actual tecnologia.
São várias as marcas que estão a conduzir investigação nestas novas baterias, incluindo a Volkswagen, que promete baixar de forma considerável o custo dos eléctricos com o lançamento da gama ID ainda este ano, e General Motors, que anunciou igualmente progressos nesta área. Contudo, a Tesla, uma das marcas que tem liderado o processo de massificação do automóvel eléctrico, parece estar na frente. É esperado o lançamento destas novas baterias ainda este ano, ou no início do próximo, através do Model 3 que será produzido na China.
A companhia de Elon Musk já anunciou que estas novas baterias poderão ter uma vida útil de 1,6 milhões de quilómetros, o que ultrapassa largamente a vida útil de um automóvel. Isso permitirá aproveitar as baterias para cerca de 20 anos de armazenamento de energia na rede eléctrica.
O aumento da vida útil da bateria, um dos problemas da actual geração, é apenas um dos benefícios das células de estado sólido.
Estas são assim chamadas porque utilizam electrólitos em estado sólido em vez dos actuais, em estado líquido. A vantagem directa desta alteração tem a ver com a segurança. As baterias de iões de lítio actuais têm risco de derrame, o que provoca que entrem em combustão espontânea, o que significa que a segurança será aumentada de forma considerável.
Mas há mais. As novas baterias prometem ser mais compactas, o permite aumentar a capacidade da bateria e a sua autonomia ocupando o mesmo espaço na viatura.
A nova tecnologia também melhora o tempo de recarga, um dos calcanhares de Aquiles dos eléctricos.
E a derradeira melhoria serão os custos. A bateria é o elemento mais caro de um automóvel eléctrico e o principal responsável pela diferença de preço para os automóveis de combustão. As novas baterias prometem baixar o preço dos actuais 160 dólares por Kw, aproximadamente, para cerca de 80.
Além de revolucionar a mobilidade eléctrica, estas novas baterias estão também a prometer um novo fôlego para a energias alternativas, uma vez que permitirão tirar maior partido da energia eólica e solar que actualmente é desperdiçada por falta de capacidade de armazenamento.
Há ainda um dado interessante para nós portugueses. É que a cientista que criou a solução de electrólito em estado sólido, desenvolvida posteriormente em universidades norte-americanas, foi Helena Braga, cientista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.