As novas regras sanitárias mudaram a forma como as aulas são dadas
No contexto de confinamento devido ao novo coronavírus, as escolas de condução tiveram que parar o ensino devido à impossibilidade de leccionar aulas em videoconferência. Apesar de ser mais ou menos imune às desistências, o sector pode perder cerca de 30% do mercado um novos clientes devido às restrições financeiras das famílias. A crise pandémica trouxe ainda despesas acrescidas às escolas, que se estimam de 10 euros por dia por cada instrutor. As quebras nos novos clientes e o acréscimo de custos podem ser ameaças à sobrevivência das empresas do sector, que pede mudanças para se adaptar aos novos tempos

 

As escolas de condução foram mais um dos sectores afectados pela crise do covid-19, forçado a encerrar portas durante o estado de emergência decretado pelo governo até ao passado dia 18 de Maio.
A reabertura, tal como todos os restantes sectores de actividade, foi feita com um conjunto de medidas de protecção sanitária.
“Colocamos capas de protecção no volante e noutros componentes de contacto; enquanto se dá aula de condução o aluno não poder transportar mais ninguém no veículo; e temos lotações menores nas aulas teóricas”, aponta Diogo Ciência, empresário do sector, além das desinfecções obrigatórias das mãos e uso obrigatório de máscara.
O empresário realça que tudo isso traz custos acrescidos para as empresas, que estima em cerca de 10 euros por dia por cada instrutor.
Diogo Ciência teme que a elevada concorrência no sector, que tem por base uma política de preços demasiado baixos, leve as empresas para terrenos perigosos quanto à sua sobrevivência.
“Em todos os sectores esses custos acrescidos reflectem-se no peso, mas não é possível fazê-lo quando uma carta custa 300 ou 400 euros”, observa.
O empresário defende que é tempo de começar a dar mais valor ao serviços que as escolas prestam, incluindo as próprias escolas.
“O papel do instrutor e da escola de condução é ridicularizado, por culpa própria. Precisamos que as escolas sejam obrigadas respeitar as regras e que seja igual para todos, nomeadamente que se cobre um valor que cubra as despesas”, completa.
Outro constrangimento que a pandemia trouxe, assim como as medidas de controlo, foi no acesso aos centros de exame. O centro que serve o Oeste abrange 80 escolas, pelo que não é fácil marcar os exames de acordo com as pretensões dos formandos.

EMPRESAS PODEM FECHAR

Diogo Ciência refere que o sector não perdeu os clientes que já tinha, muito pelo modo de funcionamento do sector.
As desistências que temos não são mais do que o habitual.
“Quando os alunos contratam o serviço, uns pagam logo a totalidade do serviço, outros vão pagando por prestações”, refere. A este nível as consequências poderão ser o prolongamento dos prazos de pagamento, assim como maiores demoras para repetir os exames em caso de reprovação.
No entanto, no que a novos clientes diz respeito, o empresário fala em quebras que podem ir aos 30%.
“Vamos ter uma quebra grande em inscrições”, o que preocupa ainda mais o empresário quanto à política de preços. “As empresas podem valorizar ainda a questão do preço para captar esses alunos, o que pode ter custos para os formandos”, observa.
Caso tal se verifique, o empresário teme que algumas escolas não cheguem ao fim do ano. Diogo Ciência nota também que “é preciso facilitar o processo de transferência de escola de condução, para no caso de o aluno não estar satisfeito, poder mudar”.
O empresário refere que este deve ser mesmo encarado pelas autoridades que regem o sector para uma mudança “necessária” no ensino da condução”. “É preciso simplificar planos de formação teóricos e práticos, permitir outros meios de contacto com o aluno, porque, por exemplo, não é permitido dar formação à distância, algo que deve ser revisto”, afirma, lamentando que as mudanças no sector sejam lentas e, muitas vezes, tardias.

OLHAR O FUTURO

Diogo Ciência refere ainda que o sector precisa de se modernizar para acompanhar as novas tendências do mercado automóvel.
Com os eléctricos à porta, o sector não pode adoptar estes veículos por falta de enquadramento legal. “Por exemplo, se um aluno fizer um exame num carro automático, só pode conduzir carros automáticos, e os eléctricos têm transmissão automática”. O empresário defende que, neste caso, seria interessante permitir habilitar os alunos com as duas soluções, de modo a preparar os condutores para esta nova realidade.
De resto a entrada deste tipo de viatura será importante para as escolas, por preparar os alunos para a nova realidade tecnológica, e pelo menor custo de operação.