Gosto de ir à Tourada.
Tenho lido com algum cuidado e tentando manter o espírito aberto, os argumentos pró e contra a Festa Brava. Se os argumentos a favor fazem, para mim, sentido, reconheço que não são, de todo, absolutos e inatacáveis. Quanto aos argumentos contra, embora muitos sofram de manifesto exagero e enviesamento ideológico, reconheço também mérito em alguns deles. Não consigo decidir de forma racional, fica-me a decisão “da emoção”: no próximo 15 de Agosto lá estarei em mais uma tarde de toiros, e pronto!
Ainda a propósito da proibição das touradas. De todos os argumentos que tenho ouvido há um que até terá alguma piada quando esgrimido à mesa de um café, mas que não pode ser utilizado numa discussão mais séria. É ele a legitimidade do PAN em ter levado o assunto à Assembleia da República, visto haver muito mais aficionados dos touros do que este partido teve de votantes. Por definição, em democracia, não podemos calar a voz das minorias e o Parlamento é por excelência o local onde essa voz deve ser ouvida e respeitada. Ficou mal, ao debate parlamentar, a utilização deste argumento da baixa representatividade.
Por razões que um dia talvez possamos vir a explorar, tem a nossa esquerda o irritante hábito de se considerar como polícia moral da história. Este tique, base do politicamente correcto, leva à utilização de inaceitáveis e insultuosos argumentos contra a tradição taurina. No 15 de Agosto, muito provavelmente os adeptos da proibição das touradas estarão a manifestar-se junto à Praça. Serão poucos, mas merecerão o meu respeito se, eles também, mostrarem respeito pelas minhas escolhas.
Embora não conheça qualquer quantificação, aceito o facto de que os resultados alcançados este ano, pela equipa de futebol caldense, tiveram impacto positivo na imagem do Concelho e com isso na respectiva actividade económica e reforço da atractividade enquanto destino turístico. Acresce ainda a satisfação e orgulho que a maior parte dos caldenses sentiu com os resultados da sua equipa e o contributo desse facto para o reforço da imagem identitária da Cidade. Justificam-se assim as manifestações públicas de apreço para com o clube e a equipa. Mas há limites. Para perpetuar os resultados do Caldas tenho ouvido por aí algumas vozes a sugerir que a Mata seja rebaptizada como “Mata Encantada”. Não podemos permitir que entusiasmos momentâneos nos façam perder o sentido das proporções. A Cidade está agradada com o seu Clube de futebol, mas deve a sua existência à decisão de uma Rainha. A Mata, enquanto anel protector das Águas e do Hospital tem, enraizado no acto fundador, um incontornável simbolismo, não vejo assim outro nome possível que não Mata Rainha Dona Leonor.
Como acontece sempre, também este ano o programa da Semana Internacional de Piano de Óbidos promete ser um acontecimento de excelência com concertos a não perder, mas, em minha opinião, o ponto alto das actividades culturais deste Verão no Oeste, aconteceu na Cerca do Mosteiro em Alcobaça no passado dia 12 de Julho com a apresentação do bailado A Sagração da Primavera, acompanhado ao vivo com a Orquestra Filarmónica Portuguesa. Não desesperem, no entanto, os melómanos que não puderam ir a Alcobaça, certamente que a comissão-mor de festas da cidade, sediada ali para os lados da Praça do Município terá excelentes alternativas para apresentar na Expoeste.
João Diniz
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