diretor da ESAD.CR do Politécnico de Leiria
“O mar está rápido!”, foi assim que chegámos ao areal, com uma manifestação de antecipação do entusiasmo de entrar num mar rápido. O mar pareceu assim talvez por que as ondas se sucediam umas às outras numa frequência muito curta. Dentro do mar contavam-se 31 surfistas, ligados ao mar por neoprene. O mar também estava rápido para essas pessoas que vestiam um fato que as mantinha na água, talvez por que a antecipação do tempo em que estão dentro do mar seja uma duração – uma imersão.
Na areia, ou junto à rebentação onde as ondas se desfaziam, depois de terem batido nas pernas ou nas costas daqueles que ali estavam sem fato, o tempo passava em várias durações, ou em momentos, distribuídos entre dar a volta na toalha, olhar para o mar e pensar quanto tempo levaria um fato de neoprene a ser feito? Estar na pele de um surfista parecia tão fácil como vestir-lhe o fato.
Estavam 31 surfistas dentro do mar rápido e alguns, junto à rebentação, preparavam-se para se juntar aos outros.
– Quanto tempo espera um surfista para entrar no mar?
Não se esperava para entrar, era antecipado, o tempo da espera resumia-se no presente – já era assim ao chegar à praia, o exercício era fazer coincidir os tempos.
A duração que antecedia a abordagem ao mar parecia uma espera. Antes de chegar à rebentação e esperar, os surfistas eram pessoas na praia, com pranchas e fatos de neoprene.
Ao contrário dos surfistas no mar, saímos da praia
com a chuva
O tempo que se passava na praia começava com uma antecipação – nascia na memória – e desenrolava-se em momentos sem ordem ou plano. Com tantas pessoas dentro de água, vestidas com uma membrana que as une ao mar, sentadas nas suas pranchas, sobrava outra questão: será que estar ali, naquele sítio durante aquele tempo, era um tempo presente estendido?
Nesse dia, o livro A ordem do tempo, de Carlo Rovelli, estava no saco da praia e com ele a releitura das palavras de Santo Agostinho, nas Confissões: “É na minha mente, então que meço o tempo. Não devo permitir que a minha mente insista que o tempo é algo objetivo. Quando meço o tempo, estou a medir algo presente na minha mente. Ou o tempo é isso, ou não sei o que é.” No tempo presente, os vestígios do passado revolviam na consciência, como um eco pessoal.
Ao contrário dos surfistas no mar, saímos da praia com a chuva. No entanto, o contínuo temporal, representado pelo barulho do mar, entre a constância do grave profundo e o desfazer das ondas em frequências curtas, era o mesmo para todos. ■