A democracia só existe com imprensa livre

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Francisco Rebelo dos Santos
presidente da Cooperativa Editorial Caldense

A democracia é um bem precioso que pode ser comparado a um grande edifício civilizacional, uma casa onde cabe toda a humanidade. A democracia não é igual em todos os lugares, em cada patamar deste edifício residem especificidades e circunstâncias próprias, ou seja, há muitas imperfeições e abundam os defeitos. Os pilares da democracia erguem princípios consagrados em letra de lei, de onde emerge uma dimensão de valores humanistas com direitos e deveres iguais para todos. A liberdade de imprensa é uma das expressões mais importantes da democracia, podendo ser considerada seu elemento constituinte.
A democracia deve ser aprofundada e defendida diariamente, tal como a liberdade de imprensa. A independência dos órgãos de comunicação social e a liberdade de imprensa são incontornáveis num estado de direito e indispensáveis ao escrutínio dos poderes.
Assinalar o dia mundial da liberdade de imprensa constitui uma oportunidade para exigir o fim de todas as formas de censura que limitam e condicionam o direito à informação em muitas partes do mundo. Sempre que as ditaduras crescem a liberdade de imprensa diminui, até chegar ao ponto de desaparecer.
Os exemplos da imprensa amordaçada na Rússia não são um caso único, apenas um ponto num mapa de barbaridades contra o direito de informar e ser informado. Já antes da guerra na Europa a pandemia pavimentava o quotidiano da informação em muitas partes do mundo, esgrimindo ameaças à liberdade de imprensa, com sofisticados serviços de intoxicação e propaganda.
Numa democracia adulta, como a que vivemos, na guerra ou nas batalhas da pandemia, quem defende a democracia só pode estar do lado da liberdade de imprensa. Não há outra escolha. As ameaças à liberdade de imprensa são nítidas e visíveis nas geografias lideradas por ditadores, mas constituem um problema universal, que favorece os movimentos populistas e o descrédito dos regimes democráticos, deixando o mundo em modo de apneia sempre que os extremistas se aproximam da esfera do poder.
Nesta edição especial da Gazeta, título que conheceu a mordaça da censura, celebrar a liberdade de imprensa é um pretexto para sublinhar que nada está garantido. Nas pequenas comunidades, a liberdade de imprensa é muitas vezes uma missão complexa, balizada pelos pequenos poderes que interpretam quase sempre os elogios como pequenos e as críticas como exageradas.
Se a democracia precisa de uma imprensa livre, é urgente saber qual o contributo do poder local para garantir e promover a liberdade de imprensa e a sustentabilidade dos órgãos de comunicação social dos territórios.Muitos autarcas não resistem à tentação das redes sociais e ao uso crescente de meios próprios, esquecendo a existência de políticas de investimento nos jornais da sua terra e a promoção da leitura através da oferta de assinaturas para escolas ou junto de públicos desfavorecidos.
Mais democracia implica mais e melhor jornalismo, uma imprensa forte e sustentável.
É um privilégio para a Gazeta das Caldas e para a imprensa regional defender a liberdade de imprensa numa edição tão especial, dirigida pela jornalista Ana Sá Lopes. Obrigado pelo seu exemplo inspirador e pelo trabalho desta grande equipa. A Gazeta é dos seus leitores, por isso será sempre um espaço de liberdade. ■

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