Como referi na última crónica, de acordo com a previsão divulgada pelo jornal Público (edição de 25.11.2019), até 2030 quase 60% dos professores irão reformar-se.
O Expresso, na edição de 8/02/2020 traça um cenário ainda mais alarmante, referindo grupos como Português e História, em que as percentagens de aposentação ultrapassam os 80%, e destacando o grupo de Físico-Química, no qual existiam 5.269 professores em 2018, prevendo-se que em 2030 haja menos 2.600.
Como agirá Estado? Prevenindo a crise anunciada ou, como habitualmente, limitando-se a remediá-la?
Questionado, o ME refugia-se num discurso ambíguo, prometendo: um «plano de valorização e rejuvenescimento da carreira docente», propondo-se vagamente fomentar a «atratividade das licenciaturas que conduzem ao ensino».
Quanto à definição de uma estratégia concreta, nada diz.
Ninguém terá dúvidas de que a educação é um pilar estruturante da cidadania, sem a qual não há justiça nem mobilidade social.
À extrema relevância da função dos professores, terá de corresponder o prestígio social que lhe tem sido negado, determinante para que os jovens se sintam atraídos por esta profissão.
E tal prestígio não se resume ao estatuto remuneratório. Segundo um relatório da OCDE – Um Olhar sobre a Educação, os professores alemães auferem quase o dobro da média dos países desta organização. No entanto, chegam-nos notícias deste país, de que faltam 40 mil professores, tendo havido necessidade de preencher vagas por aposentados ou estudantes sem habilitação própria.
Há entre nós uma contínua desvalorização social da profissão docente, decorrente da indiferença dos sucessivos governos, e da necessidade da constante exposição da classe, em greves, marchas, protestos, manifestações e denúncias, passando para o país a ideia de que nada há de gratificante nesta profissão.
Fosse a Educação uma prioridade de qualquer governo, houvesse um investimento na dignificação da Escola e da carreira docente, e tudo seria mais simples.
Perante a apatia dos responsáveis políticos, a carência de professores vai aumentar num curto espaço de tempo, tanto mais que temos uma das classes docentes mais envelhecidas da OCDE.
Por cá, agravam-se as dificuldades em substituir docentes com atestado médico, nas disciplinas de Português, História e Inglês. E a tendência é para piorar noutras disciplinas, como Geografia, Francês e Filosofia.
O caminho a seguir terá de passar pela valorização e dignificação da carreira docente desde o seu início, nomeadamente ao nível da remuneração e das condições de trabalho, alterando desde logo o estatuto do docente estagiário, de modo a que o mesmo seja remunerado em função das horas de docência que lhe são atribuídas.
Urge repensar a Educação, antecipando soluções que evitem um cenário dramático prestes a abater-se sobre as nossas Escola.
Amanhã será demasiado tarde.
Maria do Céu Santos