Bruno Reis Santos (Mantraste)
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Esta semana fui ao Cinema ver o filme brasileiro, Bacurao, de Kleber Mendonça Filho e Julio Dornelles, com a participação de Sónia Braga. O filme decorre numa pequena aldeia esquecida no Nordeste Brasileiro, tão esquecida que nem no mapa aparece, e conta a história de como a sua população resiste a um ataque exterior, tendo como arma a união da sua comunidade. Durante o filme dei por mim a desejar fazer parte daquela comunidade e levei mesmo essa sensação comigo depois de sair do cinema. Durante a viagem para casa reflecti sobre o que tinha acabado de ver e o porquê deste desejo. Por um lado o filme fez-me lembrar o realismo mágico do livro “Cem anos de solidão” do Gabriel Garcia Marques, um livro que me inspira muito, por outro podia ter-se passado em qualquer aldeia portuguesa; podia também fazer parte das memórias que tenho da minha infância, de como a vizinha da minha avó levava pão quente a casa ao sábado de manhã, da aldeia se juntar para as colheitas, e quando mesmo em crise, apesar das queixas, sorriam e cantavam. Então afinal o que se passa hoje em dia, porque estamos tão desligados do que nos rodeia mas sabemos tudo sobre o que está distante? Será que evoluímos assim tanto? Evoluímos ao ponto de termos de fabricar fechaduras para trancar as portas que nos protegem de nós próprios, é assim que queremos viver? Vivemos numa sociedade onde o nosso maior medo é o que os outros pensam de nós e talvez por isso não aceitamos a diferença e o extremismo cresce para a esquerda e para direita; onde o individual é mais reconhecido que o colectivo e então a ansiedade e a depressão crescem, pois pensamos que a vida é para os outros. Talvez seja tempo de parar um pouco e reflectir, pensar pela própria cabeça, pensar sobre o que é o mais importante para as nossas vidas. Não precisamos de mudar o mundo, mas podemos começar com a nossa comunidade, nem que seja conseguir pedir ajuda, deixar de nos condenar a nós próprios e aos outros, perguntar ao vizinho como tem passado, aceitar os defeitos dos outros, ver as suas virtudes e perceber que se crescermos todos juntos vamos mais longe. No entanto confio que este deserto que atravessamos venha a trazer frutos, porque o mal é como o fermento que nos faz crescer.
Esta semana é também marcada pela morte de um amigo de Lisboa, que foi sempre simpático, sempre se preocupou com os outros e acima de tudo ajudou sempre os outros a esquecerem os seus problemas e por isso não será esquecido – graças a ele seremos melhores.

Bruno Reis Santos
(Mantraste)

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