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Quando nascemos temos pela frente um mistério. A vida é um espaço de tempo que vamos trilhando até ao momento que dizemos de final. Até à morte!
O que fazemos durante o espaço de tempo que une os dois polos, nascimento e morte, é uma incógnita e está dependente de vários factores que medeiam entre a personalidade de cada um e o contexto social em que vivemos.
Mas não é do que fazemos da vida que quero falar, é de como dignificamos o momento da morte, de como honramos a memória da vida de quem parte.
É um assunto melindroso porque a morte, em especial dos que nos são mais queridos, é sempre um espaço de tristeza e de dor, porém dado que ninguém pode fugir a este desígnio julgo relevante abordar aqui este assunto.
O ritual de despedida do defunto, a que chamamos de velório tem, regra geral, a duração de um dia. É durante esse tempo que os familiares e amigos se sentem mais frágeis, dado o choque que a morte provoca.
É quando estamos mais vulneráveis que esperamos uma maior resposta de conforto por isso os amigos nos rodeiam e confortam com palavras e gestos de carinho.
Há todavia um factor incontornável, algo que não cabe aos mais chegados resolver, o ambiente físico, o local onde o velório decorre, essa responsabilidade está a cargo daqueles que regulam o “bem-estar” público.
Temos nas Caldas da Rainha dois cemitérios com capelas mortuárias que deviriam ser confortáveis, bonitas, arejadas, limpas, suficientemente grandes para nos mantermos juntos dos que precisam de nós nestes momentos tão difíceis.
Mas em vez deste desejado conforto, deste direito que temos de, apesar da dor, nos sentirmos tranquilos e em paz, parece mesmo que nos é dado a viver a realidade do fim da linha.
Nas nossas capelas mortuárias sufoca-se a tristeza no calor não do amor mas dos espaços fechados sem reciclagem de ar, sem ar condicionado, nas paredes sem pinturas novas e brancas que inspirem luz e limpeza. As mesmas marcas de cera nas carpetes de anos, os mesmos sofás desconfortáveis de cores deprimentes. As casas de banho manifestam o desgaste da idade… Enfim!… Um sem fim de pequenos GRANDES pormenores que ajudariam a dignificar a memória das vidas dos que partem e permitiriam aos que ficam a sentirem-se menos mal!
Gasta-se dinheiro em tanta coisa!… Porque não investir mais na dignificação dos espaços por onde todos nós, garantidamente, iremos passar?
Dizem os sociólogos que a honra prestada aos que partem evidência a cultura dum povo, são o “espelho da sociedade” são a manifestação da gratidão pela vida do “outro” ser humano.
Todos temos a nossa definição de morte e da sua relação com a memória, que variam entre o complexo e o mais simplificado mas garantidamente todos desejamos guardar do defunto as recordações mais belas porque são essas que perduram e nos ajudam a suportar a saudade.

Margarida Varela
margaridavarela13@gmail.com

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