As minhas felicitações pelo excelente trabalho apresentado sobre o Dr. Manuel Sousa d’Oliveira – o Estudante de Oxford (edição de 11 de Maio).
Fui colega do professor Sousa Oliveira, nos primeiros anos da sua passagem pela Escola Rafael Bordalo Pinheiro. Com ele tive oportunidade de colaborar, muito intimamente, dadas as afinidades culturais e o gosto pelas matérias leccionadas. Juntos criámos um Clube de História, para os nossos alunos, que resultou numa experiência de grande envolvimento.
Porém, o Dr. Sousa Oliveira era, sobretudo um homem de cultura: arqueólogo e bibliófilo apaixonado. Tinha livros espalhados por vários locais do País – Lisboa, Coimbra, Caldas, Ponta Delgada, etc. Amava os livros. Forrava-lhes, carinhosamente, as capas: penso até que esta era uma actividade que lhe dava um gozo especial. Arqueólogo que era, o Dr. Sousa Oliveira, sempre que tinha oportunidade, orientava as suas lições para esta subespecialidade da História.
Dirigiu, entre outras, as escavações para devolver ao conhecimento a importante povoação de Vila Franca do Campo, primitiva capital dos Açores, soterrada por um enorme terramoto, (1522).
Na sua propriedade, nos Arrifes, perto de Ponta Delgada, dedicava-se à cultura de estufas da ananases. Para lá regressou, para viver os derradeiros anos de vida, legar à sua terra o precioso espólio paleo-arqueológico, a sua vastíssima biblioteca e continuar a discutir com o seu velho amigo Joaquim de Melo Bento o futuro do Açores – independência ou autonomia?
No entanto, senhor Director da Gazeta, a razão da minha missiva prende-se com outro aspecto, menos divulgado, do percurso de vida do Dr. Manuel Sousa d’Oliveira e da sua relação com as Caldas. Sousa Oliveira foi, nos anos cinquenta/sessenta, Director do Museu Regional de Viana do Castelo. Nessa qualidade, planificou e organizou a II Exposição de Arte Moderna de Viana do Castelo. Esta exposição, depois de passar por Coimbra, veio às Caldas, por iniciativa do CCC – Conjunto Cénico Caldense e o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian; tendo tido lugar no Clube de Recreio do Parque (Casino), em 1960.
Dificilmente se voltaria a poder realizar, numa cidade de província, algo de semelhante grandeza – tantos e tão representativos eram os artistas apresentados. A mostra constituiu um enorme sucesso e teve um grande impacto na sociedade local, não só pela qualidade e quantidade das obras expostas, como pelas visitas guiadas pelos mais relevantes Críticos de Arte: Prof. Luís Reis Santos, Alexandre de Gusmão, Rui Mário Gonçalves ou Fernando Pernes.
Os pintores Aníbal Alcino, António Quadros, Artur Bual, Carlos Carneiro, Dórdio Gomes, Fernando de Azevedo, Júlio Resende, Marcelino Vespeira, Mário Eloy, os escultores Dario Boaventura, João Fragoso, Luís Ferreira da Silva, também os desenhos de Francisco Relógio, as gravuras de António Lino, Jorge de Almeida Monteiro, Mário Silva, as cerâmicas de António Assunção Sampaio, José Sanches, Maria Luísa Fragoso, e tantos, tantos mais… eram os artistas presentes. No total, cerca de quarenta!
Tudo isto foi obra da mobilização, do conhecimento, da vontade, do prestígio do Dr. Sousa Oliveira.
Foi desta maneira que conheci, dez anos antes de ter chegado, como professor, à Bordalo Pinheiro, o meu colega Manuel Sousa d’Oliveira. Homem livre, apaixonado muito culto, excelente conversador, um espírito eclético – o estudante de Oxford!
Mário Tavares