Ainda o Parque

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Gazeta das Caldas
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Na assembleia da freguesia de Nossa Senhora do Pópulo et al., em 24 de Setembro, o Presidente da Junta anunciou estarem a ser estudadas alternativas para “o layout” da feira de velharias, devido à enorme pressão que ela provoca sobre o Parque D. Carlos I. Segundo ele “trata-se de uma zona sensível” (sic). Ainda hoje me pergunto se terei percebido mal, mas não creio. A Junta está preocupada com a pressão que a feira de velharias provoca sobre o Parque mas aceita como natural a Feira do Cavalo ou o festival de Verão a que também se chama Feira da Fruta. Estranha contradição.
A questão de fundo, que nos deve fazer ponderar, prende-se com o entendimento da utilização de um espaço notável como é o do parque D. Carlos I. Trata-se de um jardim com uma história e com uma função especifica no enquadramento do espaço termal, onde sobrevivem, apesar de tudo, espécies botânicas importantes que devem ser mantidas e preservadas. Como já afirmou publicamente quem destes assuntos percebe muito mais do que eu, o Parque é, entre Lisboa e Coimbra, o maior Jardim Botânico e tem um potencial para estudo e visitas pedagógicas que está a ser absolutamente descurado se não mesmo paulatinamente destruído por quem dele é neste momento responsável. O Parque é também um local de lazer único na cidade, onde ao longo dos últimos anos foi ignorado pelos planeadores, absurda e gritantemente, a necessidade de criação e manutenção de zonas verdes de qualidade.
Para a nossa autarquia o Parque tem, ao invés, um carácter exclusivamente instrumental, onde é lícito fazer qualquer actividade desde que permita mostrar urbi et orbi como temos a sorte de ser governados por quem tão bem sabe desenvolver o turismo de massas.
Como a defesa do belo, e do património, natural ou construído, não é um apanágio da esquerda ou da direita mas tem de estar muito para além dessas considerações, não me levanta qualquer problema juntar a minha voz a todos aqueles que ultimamente se têm levantado contra a utilização do Parque para outros fins para além daquele que esteve na génese da sua construção. É com gosto que estou ao lado da esquerda nesta questão, entristece-me que outras vozes mais próximas do meu quadrante político não se façam também ouvir.
Notas de rodapé:
1- Vi com agrado que, ao contrário dos vereadores do PS, a opinião do Presidente da Câmara já evoluiu, mostrando uma posição mais aberta para discutir a localização do novo Hospital do Oeste, cuja construção devemos todos continuar a reivindicar.
2- Sempre defendi que a parceria entre a Câmara e o Montepio para a exploração do Termal era uma má solução. O chumbo do Tribunal de Contas e a decisão do Executivo Municipal em assumir a gestão directamente é no entanto muito pior e, espero sinceramente estar errado, tem tudo para ser um desastre.
3- A zona da antiga Secla tem uma localização de excelência na cidade, em continuidade com o centro histórico, em face do parque, junto da rota dos museus. Parece portanto (entende a nossa autarquia) ser a zona ideal para a construção de uma grande superfície comercial com estacionamento à superfície – a próxima vez que ouvir algum responsável autárquico falar numa visão estratégica para a valorização da malha urbana e o desenvolvimento integrado e harmonioso do território, não acredite.
4- Caldas Jazz começa a tornar-se num festival que vale a pena acompanhar. Pena é que os nossos autarcas continuem a não conseguir resistir à tentação de tudo transformar em campanha de auto-elogio. É feio e de mau gosto.

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