Brincar é um assunto sério

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Vítor Ilharco
Personal Trainer

Em Portugal, os índices de excesso de peso e obesidade infantil são alarmantes. De acordo com dados recentes, cerca de 30% (uma em cada três) das crianças portuguesas são obesas ou têm excesso de peso. Esta “epidemia silenciosa” é um problema, não só nacional como europeu, e os estudos indicam que haverá uma tendência crescente ao longo das próximas décadas.
Este cenário inquieta não apenas pelos impactos imediatos na saúde, mas também pelos riscos futuros, como problemas hormonais, cardiovasculares ou pulmonares. Algo que também preocupa é a noção de que os novos hábitos recreativos das crianças vieram para ficar. O período despendido em frente a ecrãs como computador, telemóvel ou televisão, preenche quase todo o tempo de lazer das crianças e jovens.
Num dos países mais seguros do mundo e com condições meteorológicas invejáveis é crucial refletir sobre a importância de se voltar a brincar no exterior. Brincar ao ar livre não só é essencial para combater o excesso de peso e a obesidade, como também promove benefícios significativos para o desenvolvimento motor, psicológico e social.
O brincar, de que aqui falo, é bastante diferente das práticas organizadas pelos adultos, como o desporto, atividades extracurriculares ou a educação física. Como defende Carlos Neto, sem dúvida a maior referência nacional, e uma das mundiais, sobre motricidade infantil, uma criança feliz é uma criança com os joelhos esfolados. É premente reduzir a superproteção dos pais. É necessário voltar a dar autonomia e responsabilidade às nossas crianças em tarefas como irem sozinhas para a escola. É crucial permitir o contacto entre os mais novos, possibilitando que criem os seus próprios jogos, aprendendo a negociar e a partilhar, tendo e resolvendo situações de conflito entre si.
Como diz, mais uma vez, Carlos Neto, “brincar não é útil nem um meio para um fim, considerando-se um fim em si mesmo”. Todos pretendemos que a próxima geração seja de adultos com elevada capacidade para as novas tecnologias, porque essas vieram para ficar, e ainda bem. Mas, certamente, também todos queremos que esses cérebros evoluídos sejam funcionais e que se insiram em corpos saudáveis.
Brincar é mesmo um assunto sério e, apesar de inato e ancestral, os nossos novos hábitos parecem estar a fazer com que as crianças já não o saibam fazer sozinhas. Se queremos uma nova geração de adultos saudável, física e mentalmente, precisamos de dar tempo realmente livre às crianças e deixar de as colocar em redomas, permitindo que corram os seus riscos. ■

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