No início de 2023 abordámos as razões do atual conflito na Ucrânia, dando pistas para os estimados leitores poderem compreender as suas origens e concluindo que o seu desfecho era difícil de prever. Efetivamente, mais de um ano decorrido, o conflito ainda está em curso continuando a ser impossível vislumbrar o seu fim e os seus efeitos.
A situação é complexa, porque por um lado a Rússia já não tem outra opção além de mostrar aos seus cidadãos e à comunidade internacional que tem ganhos efetivos da investida no pais vizinho, sob pena de perder a credibilidade nos palcos regional e mundial, e por outro lado, a Ucrânia está a lutar pela sua sobrevivência, não podendo fazer cedências de território, sob pena de se transformar num hábito, que a prazo levará eventualmente à total assimilação por parte da Rússia.
Os ucranianos têm demonstrado ser um povo resiliente e corajoso, defendendo o seu território e os seus compatriotas por todos os meios possíveis. Poderá mesmo afirmar-se que muitos observadores atentos não esperariam que chegassem a esta fase do conflito (principalmente Putin e os seus colaboradores mais próximos), mas chegaram e a luta está para continuar.
Obviamente que o contributo de diversos países para o esforço de Guerra ucraniano não pode ser desprezado. Sem equipamento, armamento e munições restaria a opção da resistência subversiva ao invasor, mas sob a gestão alheia aos interesses da Ucrânia. Será que vai acabar por ser esse o destino dos ucranianos? Esperemos que não.
Muito se tem falado sobre a Guerra na Ucrânia e há mesmo quem afirme que o apoio prestado pela comunidade internacional poderá ser um erro que apenas contribui para adiar o inevitável e aumentar a estatística das baixas e das perdas não devidas a combate. Todavia, a alternativa é ver um país sucumbir nas mãos do invasor, postura contrária aos valores defendidos pela civilização ocidental há várias gerações.
Devemos ainda refletir sobre o significado de uma derrota da Ucrânia para a Europa e para a NATO. Geograficamente, a Ucrânia está no limite Leste das duas organizações multilaterais, pelo que reduzir essa distância tem riscos. Após o derrube do muro de Berlim (não caiu, foi derrubado) a tensão Leste/Oeste teve diversas fases – sem dúvida que a atual é uma das mais críticas. Por outro lado, afirmar que a assimilação da Ucrânia é uma grande ameaça para a NATO e para a União Europeia talvez seja exagerado, porque uma ofensiva russa a países da NATO implicaria uma reação solidária dos restantes, ao abrigo do Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, situação da qual não se vislumbram vantagens para a Rússia. No entanto essa retórica existe nas mentes mais “realistas” (no sentido teórico das Relações Internacionais) do mundo ocidental.
De tudo o que temos presenciado através dos órgãos de comunicação social, provavelmente o mais extraordinário tem sido a força, a resiliência e a capacidade de liderança de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que até 20 de maio de 2019 foi essencialmente um ator, profissão que pouco indiciava o herói e estadista de elevada craveira no qual se transformou. Existe um provérbio, alegadamente português, que se pode aplicar a este grande senhor: “A necessidade aguça o engenho”, mas nem todos têm a capacidade, principalmente em situações tão extremas, de se tonarem no seu corolário.
Se pudéssemos prever o futuro, o presente perderia o interesse. Contudo este é um daqueles momentos da humanidade em que a Paz seria o melhor desfecho, mas avizinham-se tempos incertos e perigosos. ■ A Direção