– “Eu sou a favor da Eutanásia! Acho que as pessoas devem poder acabar com o seu sofrimento. Não faz sentido viver sem dignidade.”
Esta é a frase tipo que tanto pode ser ouvida numa conversa de café, como num debate televisivo. É este o pensamento que, de forma superficial, pode parecer lícito, mas que é, mais do que tudo, profundamente falacioso.
O primeiro ponto que interessa desmistificar é que a eutanásia não põe fim ao sofrimento, põe fim à vida. Em pleno século XXI, com os recursos de que atualmente dispomos no âmbito da medicina, questiono-me como podemos conceber que a “ajuda” que nos propomos prestar possa ser a de matar o outro. Por outro lado, a dignidade da vida não é nem poderá ser nunca veiculada pela morte. A dignidade é intrínseca à vida.
A eutanásia é a morte intencionalmente provocada por um profissional de saúde. Assim como o suicídio farmacologicamente assistido por médico ou por qualquer outra pessoa, alegando o alívio do sofrimento, é igualmente tirar a vida.
Hoje e sempre a Igreja tem-se debatido para fazer sentir que a história da humanidade é marcada por sentimentos mistos, em que a convivência humana tanto se pode exprimir na alegria da entreajuda e da fraternidade, como cair na violência em que um homem mata o seu semelhante. Sermos responsáveis pela vida do nosso semelhante é o princípio do humanismo cristão que se ensina na Catequese e na Família, como fundamento moral do respeito pela vida dos outros.
Pelo Oeste (Cadaval, Bombarral, Lourinhã, Óbidos, etc.) têm-se desenvolvido vários encontros de sensibilização para a questão dos doentes em fim de vida, do que se pode fazer para aliviar a sua dor física e psicológica, não esquecendo o apoio à família e cuidadores.
Acredito que o interesse e discussão pública que se dirigem de forma tão veemente à eutanásia deveriam antes recair sobre o acesso generalizado a cuidados de saúde que visam promover o bem-estar e qualidade de vida em todos os momentos e não no término precoce da mesma sob falsas premissas. Assim, não deveríamos sequer discutir a eutanásia, quando grande parte da população portuguesa não tem atualmente acesso a Cuidados Paliativos.
Mobilizemo-nos, enquanto Igreja e Sociedade, no sentido de zelar pela vida dos mais frágeis e doentes, rejeitando de forma firme a antecipação da sua morte.
Cristina Perdigão
Médica