Jorge Sobral
Jurista
Tenho-me surpreendido com cada vez mais pessoas a procurarem junto das aldeias do nosso concelho um espaço para construção ou recuperação das muitas casas em ruína que se estendem por todas as freguesias.Não me refiro apenas a cidadãos estrangeiros que são hoje uma percentagem bastante considerável.
Refiro-me à procura destes espaços por jovens que iniciam a sua vida profissional, ligados ao trabalho em casa, utilizando as novas “tecnologias”, mas também e sobretudo jovens artistas.
Um amigo que muito considero, (ceramista) João Gancho, trouxe-me um livro intitulado “Roteiro dos Ceramistas.” Este trabalho, realizado por vários caldenses, com a coordenação da Isabel Castanheira, refere com exatidão, para além das qualidades de cada um deles, o local dos seus ateliers.
Não foi com espanto que percebi que é nas zonas rurais que estes artistas entenderam criar raízes e inspirarem-se junto da natureza.
Nas nossas Aldeias encontrar um ferrador, um latoeiro, um cesteiro, um cutileiro ou um apicultor, não espantaria.
Agora encontrar gente ligada às artes, ceramistas ou fundidores, escultores, mestres do Design, músicos, Luthier (construtor de Instrumentos de corda), talvez nos surpreenda.
O que os traz para a ruralidade. O espaço, as relações humanas, a procura de boa vizinhança, a entreajuda, o saber dos mais antigos ou o desejo de tocar a terra. De plantar, de colher e trocar.
Talvez a serenidade dos campos, a dança das folhas das árvores e a música que transportam. A inspiração.
Numa visita que fiz há já algum tempo ao moinho na Malasia, para ir ao encontro do Moleiro, Senhor Pastel, para poder assistir ao moer do milho, fui surpreendido pela grandeza das velas que nas cordas tinham amarradas cabaças que lhes dava uma visão de movimento estético.
Os olhos do Moleiro não se desligavam daquele movimento rotativo, cujas cabaças lançavam um ruído soprado como se fosse um lamento a que o mesmo intitulou como “a música da minha vida”.
Toda esta realidade, localizada em locais com história e com saberes a descobrir.
Cheias de património a visitar. As suas Quintas, as Ermidas, as zonas pedonais, o trabalho no campo (apanha da fruta e as vindimas). As aldeias com muita história, Almofala, o moinho de Madeira, a ponte romana, o Arco da Memória, os vários pontos de encontro (parques de merendas), a Mata das Mestras e tanto mais.
Há jovens que vêem futuro por estas bandas. Nas artes, na fruta, na vinha, no turismo rural. Há necessidade de todos conhecermos melhor as nossas aldeias. ■