Decorrido mais de metade do mandato e a pouco mais de um ano de eleições autárquicas, é possível gizar um balanço, necessariamente não exaustivo, sobre a prestação do executivo municipal. O que sobressai de imediato é o tique arrogante de não querer ouvir ninguém, tentando impor a sua visão mesmo que com fraca sustentação e só emendando a mão se a isso for forçado. A discussão travada sobre o PEDU e as ARU, em que, de início, as freguesias rurais eram negligenciadas, veio evidenciá-lo com toda a nitidez.
Conhecido o défice de planeamento e pior execução, sempre marcados pelo estigma da dilação e atrasos de execução, torna-se óbvia a incapacidade de superar os erros, repetidos em excesso e com demasiada frequência. Exemplos podem infelizmente encontrar-se no saldo negativo de obras mal efectuadas durante a primeira fase da Regeneração Urbana, sendo que algumas delas ainda não foram corrigidas, nas sucessivas alterações ao projecto de reabilitação das instalações do Posto de Turismo (com consequentes efeitos no caderno de encargos e custos daí resultantes) originando uma redução para menos de metade dos apoios comunitários previstos, na situação de encalhamento em que se acha o Plano de Pormenor do Centro Histórico e a revisão do Plano Director Municipal, o Plano Estratégico cuja discussão pública, de forma descentralizada, se deveria ter iniciado logo no início de 2014 e é agora, tímida e cosmeticamente, relançada (importando não esquecer que a taxa de cumprimento do anterior não atingiu os 5%), a necessária nova estrada para Santa Catarina que continua a não passar de uma vaga intenção, as dificuldades na concretização das candidaturas aprovadas de um Orçamento Participativo subfinanciado, as quais obrigaram a protelamentos de dois anos e que a eventual entrada em vigor do Orçamento Participativo Jovem virá de sobremaneira agravar, o errático e algo opaco modelo de gestão do CCC e da concessão de apoios à ADIO (que já levou a Autarquia a pagar por duas vezes as instalações da Expoeste), ou a defesa rejurada da Linha do Oeste nas Caldas da Rainha e depois renegada em sede parlamentar…
Se este estendal ficasse por aqui, não seria de somenos a preocupação. Todavia, há que relatar o capítulo de (algumas, não todas) trapalhadas jurídico-administrativas: é o não suficientemente esclarecido folhetim do gasóleo com alegados pagamentos em espécie, sem nunca se ter percebido qual a fronteira entre eventos partidários e camarários, é o episódio da direcção em duplicado do Centro da Juventude, é o Museu Leopoldo de Almeida, concluído há dois anos e que, tendo importado em 800 mil Euros, não abre, ao que se diz, devido a uma querela com a família sobre a posse do espólio…
Por fim, quanto aos aspectos absolutamente centrais da vida da cidade de Caldas da Rainha e do seu concelho, é incontornável referir a forma autista como têm sido abordadas as questões que se ligam à Lagoa, Hospital Termal e o seu património incluindo Parque e pavilhões. A sua importância justifica um tratamento mais detalhado dado que tudo isto se encerra também neste estendido vale de lágrimas.
Numa conhecida historieta do anedotário nacional surge um indivíduo, que pretendendo, com falsa modéstia, fazer sobressair os seus conhecimentos se gaba: – «Deste assunto só duas pessoas é que percebem. Uma é ali o meu compadre. A outra, o meu compadre dirá!». Assim a Câmara e a sua maioria, com a ligeira mas significativa diferença de que nem sequer aos seus muitos compadres leva em linha de conta a opinião ou reconhece competência, mas apenas a si própria…