A menos de um ano das eleições autárquicas, Salir do Porto continua a sentir grande descontentamento com os efeitos nefastos da União de Freguesias.
Mas como todos poderemos facilmente adivinhar, brevemente estará por aí a Campanha Eleitoral, com tudo o que de pior a política tem para nos apresentar. E num ápice tudo passará a um mar de rosas.
Na realidade, é agora que um punhado de militantes decidirão quem serão os próximos presidentes das câmaras, os próximos presidentes das Juntas e assim decidam em quem irão os eleitores votar.
Será um ano repleto de projetos mirabolantes, de obras grandiosas, mesmo que estas não passem dum aglomerado de lancis, projetados num fundo negro de alcatrão… enfim chegou a hora da boda aos pobres, depois de três longos anos a encanar a perna á rã.
É habitualmente nesta fase que se estabelecem alianças, que se prometem casamentos vitalícios entre autarcas desavindos, que se prometem cargos de e para o futuro, que se conspira para denegrir os possíveis adversários, é por esta altura que se luta com todas as armas a que se conseguem pôr a mão. E não pensem que será muito diferente de partido para partido, sendo porem mais visível, naqueles que têm maior probabilidade de alcançar o famigerado poder.
Se era verdade desde há umas décadas, que os mandatos eram geridos quase sempre, em função do calendário eleitoral, em que os investimentos, os apoios, e a resolução dos problemas eram adiados para a proximidade das eleições, numa perspetiva de “compra” do voto popular, também não é menos verdade que durante algum tempo, houve a tentativa de distribuir o mal pelas aldeias e se assistiu á realização das “obras” distribuídas pelos quatro anos do mandato autárquico.
Até poderia parecer aos mais incautos, que a filosofia da gestão autárquica teria mudado.
Não deixa por isso de ser curioso que estejamos a assistir neste preciso momento a um regresso a táticas do passado. Estamos hoje perante políticos, nomeadamente autarcas, que achando que os eleitores têm “memória curta”, gerem claramente os seus mandatos com base num calendário eleitoral, que á semelhanças de outras aventuras, têm sempre um final feliz.
Depois de três longos anos de total passividade, assiste-se por fim a uma espécie de milagre da multiplicação das obras, muitas vezes obras de necessidade e de interesse discutível. Saem finalmente a velocidade de cruzeiro os projetos que por este ou aquele motivo, qualquer arquiteto ou engenheiro teimava em não assinar. Em suma, são três anos a amealhar recursos financeiros, a adiar reformas e investimentos, para que em cima do ato eleitoral, não sejamos parcos em fartura de obras e inaugurações, sempre na plena certeza que os eleitores só avaliam o último ano do mandato eleitoral.
Julgo que implementar este tipo de política é colocar em causa a inteligência e o discernimento do eleitorado. Contudo, cabe sempre a este a última palavra e será sempre este a decidir se aceita ou não, ser tratado desta forma.
Por todas estas razões e mais algumas, as próximas eleições autárquicas em Salir do Porto, serão um teste interessante aos eleitores, que ao exprimir o seu voto vão dizer se o confiam a quem implementa este modelo de gestão eleitoralista, se confiam em quem assiste impune e tranquilamente á morte duma “Freguesia” que tinha uma identidade muito própria e uma história que fala por si.
Muitos de nós simples eleitores, pensamos que “vivemos em democracia”, porque “temos direito ao voto”. Mas poucos olhamos para o que o nosso voto decide: “quase nada”. Em Portugal, as verdadeiras “eleições”, já tiveram lugar meses antes, quando os partidos fizeram as suas listas de “candidatos”. São essas listas que decidem quase tudo. Os primeiros lugares das listas, os ditos lugares elegíveis, que garantem no mínimo um lugar na vereação da Câmara, na Assembleia Municipal ou na composição da Junta de Freguesia e que nada tem a ver com as preferências do eleitorado. Há muitos lugares garantidos antes do povo se ter pronunciado.
Os candidatos estão apresentados, agora que venha o Diabo e escolha.
Heraldo Carmo