Celeste Afonso
diretora cultural executiva
O mês foi fértil em acontecimentos. Poderia fazer o elogio ao Zé Pinho, a propósito da abertura da Casa do Comum; o elogio à Rede das Cidades Criativas UNESCO, a propósito da designação atribuída a Bissau; o elogio à Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, a propósito dos seus 20 anos; o elogio ao Serviço Nacional de Saúde, a propósito da competência, generosidade e humanismo de todos os profissionais da saúde… Mas este mês, permito-me usar este espaço para partilhar algo muito pessoal: a minha relação com a Lua.
Quando era pequena, ouvia a minha avó dizer que eu era aluada ou estava aluada. Na escola, fui crescendo com os professores a dizerem que estava sempre na Lua. Estas observações eram feitas em tom depreciativo, mas “ser aluada” ou “estar sempre na Lua” era estar noutra dimensão, desligada, a pensar em coisas que não tinham nome, ainda por vir.
Quase sempre olho o céu, procuro a Lua e ainda me espanto com a sua beleza, com a força que exerce em mim. Já me perdi várias vezes por seguir a Lua que me surgia grande, redonda… e quando dava por mim, seguia no sentido oposto ao meu destino! Num desses “desvios”, fui parar a Pampilhosa da Serra, saída de Leiria em direcção a Óbidos.
Tenho o privilégio de partilhar a Vida com a pessoa mais sensível que conheço. Há alguns anos que o trabalho O tem levado para outras latitudes, outros cantos do mundo. Sempre que isso acontece, apesar das videochamadas, das mensagens e telefonemas constantes, é a Lua que, intrinsecamente, nos liga: separados por milhares de quilómetros e um fuso horário de várias horas, ambos olhamos a Lua para deixarmos e recebermos “Boa noite! Dorme bem!”. Olhando a Lua, esse desejo de “boa noite” chega-nos em forma de energia que alimenta o corpo e o serena!
Vai fazer anos que recebi a prenda de natal que nem Alzheimer me fará esquecer: a noite em que Ele me ofereceu a Lua! O Natal é muito importante para Ele e vira o mundo do avesso para descobrir a minha prenda. Nesse ano, deve ter passado meses a olhar a Lua, a fazer cálculos, a estudar todas as possibilidades. Depois de consoarmos, pediu-me que fechasse os olhos, entrasse no carro e só os abrisse quando Ele dissesse. Levou-me até àquela que é hoje a nossa casa. Abriu o portão que dá para o pátio interior e, então, vi. Ela ali estava, muito baixa, grande, enorme, toda luz, “instalada” no pátio! Quase que lhe podia tocar! “- Este ano, ofereço-te a Lua!”
Agora que se avizinha uma fase ainda mais difícil, esta crónica é um elogio e uma certeza: We Will Always Have The Moon!■