Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora
Na semana que passou, arderam cerca de 124 mil hectares, sendo estimado que as chamas dos fogos dos últimos dias já enviaram mais de 2 milhões de toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera. O carbono que estava sequestrado nas florestas foi agora emitido para a atmosfera, contribuindo para o agravamento das alterações climáticas. Tínhamos florestas que captavam carbono, representando um sumidouro, que desaparecendo, deixam de o fazer, impedindo-nos de retirar esse carbono da atmosfera. A ocupação de solo em Portugal, de florestas, mato e agricultura, estão muito perto de deixarem de atuar como sumidouros para serem emissores de gases de efeito estufa, pondo em causa os nossos objetivos de atingir a neutralidade carbónica. Temos perante nós, um ciclo positivo dramático para o aquecimento global e para as alterações climáticas e por isso é tão importante, garantirmos uma floresta mais resiliente ao mesmo tempo que é necessário agir na prevenção dos incêndios a todos os níveis.
Quando condições meteorológicas extremas coincidem, demonstram uma grande vulnerabilidade do nosso território e sociedade. A nível de prevenção devemos alterar a gestão da floresta, da vegetação presente e do combustível disponível, mas tudo isto custa muito dinheiro ao Estado e a todos nós. O controle do uso do fogo é essencial! A prevenção do incendiarismo, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico de uma ação criminosa e o fim da negligência que acaba por causar estas situações são urgentes ou nunca conseguiremos mudar a história verão após verão.
Precisamos de uma floresta resiliente, mais diversificada, e uma paisagem mais equilibrada com mais pessoas, agricultura e animais como no passado, e de uma floresta que dê rendimento.
Em Portugal, 95% da floresta é privada, existindo uma predominância da pequena propriedade (minifúndio), com elevada expressão no centro e norte do país, em que os proprietários florestais, além de uma grande parte ser desconhecido, podendo até ser falecido, têm dificuldades na rentabilização das suas explorações, levando muitas vezes ao seu abandono, o qual potencia uma maior vulnerabilidade aos incêndios rurais. No nosso país existem 400 mil hectares de eucaliptais abandonados ou improdutivos – um passivo ambiental que tem de ser resolvido sob pena de continuar a acumular combustível na paisagem e a estar disponível para potenciar a propagação de incêndios.
Esta realidade poderia ser alterada se existissem incentivos para que os pequenos proprietários se agrupassem de forma a realizar uma gestão colaborativa, sendo que a mesma deveria ser complementada com o pagamento dos serviços de ecossistemas que são os benefícios que a floresta fornece ao conjunto da sociedade.
Precisamos de valorizar a nossa floresta, de dar condições a mais pessoas de viver no interior, de apoiar outros tipos de mercados. Os proprietários florestais e as florestas são essenciais à vida e à saúde de todos nós.■