Este Consumo Que Nos Consome – A importância do autodiagnóstico na nossa saúde

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Em meados dos anos 70 do século passado a política de saúde, até então completamente dependente da intervenção do Estado, dos esquemas de saúde das empresas no contexto de política de segurança social e do modelo paternalista do médico, começou a conhecer uma inflexão profunda que prossegue. Em múltiplas declarações, na maioria dos casos promovidas pela Organização Mundial da Saúde, a promoção para a saúde e os auto-cuidados ganharam relevo para melhorar a racionalidade dos meios numa tentativa de manter infra-estruturas em saúde, meios auxiliares de diagnóstico e medicamentos num contexto de universalidade.

Ou seja, constitui-se uma nova lógica: não basta que os clínicos façam bons diagnósticos ou que haja custos destinados para que o sistema de saúde funcione, é preciso que as pessoas aprendam a auto-cuidar-se, a prevenir a doença, a identificá-la numa fase precoce, a minimizar riscos e consequências nocivas de intervenções médicas. Basta olhar à volta, e ver as actuações dos promotores de saúde na prevenção das doenças cardiovasculares, o nosso procedimento com a medição da tensão arterial, os exames relativos à próstata e colesterol, e os rastreios que permitam identificar eventuais cancros da mama e do útero. A sociedade aceitou esta valorização das práticas do autodiagnóstico, da auto-medicação responsável e da melhoria da informação aos doentes e utentes de saúde, assistindo-se a ganhos significativos em que o doente pode até monitorar o seu tratamento. Como é evidente, apareceram questões novas, deu-se a introdução de procedimentos de saúde caso da informação da Internet, as linhas telefónicas de ajuda aos doentes, a partilha de informação entre doentes associados, websites institucionais, formação tendente ao auto-tratamento, acesso dos doentes aos seus historias clínicos, esquemas de apoio a grupos de doentes mediante atitudes co-responsabilização. Falando da minha experiência, tenho vindo a desenvolver ao longo de mais de dez anos uma reflexão sobre o aconselhamento farmacêutico (designadamente no que toca ao medicamento) junto do utente. Trata-se de uma informação indispensável, o utente precisa de compreender a necessidade de fazer o tratamento, saber como actuar, identificar os sinais de melhoria ou reacções adversas e estar até atento até a aspectos colaterais ao conhecimento da doença que está a tratar. Para que isto aconteça com sucesso, o utente precisa de aderência e concordância aos tratamentos que faz, respeitando o horário das tomas ou das aplicações, prevenindo espontaneamente reacções adversas, etc. Bem entendido, todas estas medidas de política de auto-cuidados carecem do envolvimento de todos para que haja mais literacia em saúde, que se façam testes de compreensão aos folhetos informativos dos medicamentos e até que sejam disponibilizadas informações em formatos em áudio e visual nos centros de saúde e nas farmácias. Resta acrescentar dentro destes auto-cuidados que é fundamental que se estabeleça uma relação de confiança entre o profissional de saúde (médico, farmacêutico ou enfermeiro) e o utente e doente, todos devem aparecer envolvidos em campanhas e procurar dialogar continuadamente.
O que se escreve também é de grande importância. Vamos usar como exemplo uma obra de leitura estimulante “Saúde do homem, manual de autodiagnóstico “ (por Keith Hopcroft e Alistair Moulds, Climepsi Editores, 2004). É um guia singular de autodiagnóstico que inclui todos os sintomas que um homem pode sentir, destina-se a homens até cinquenta anos, os sintomas estão ordenados alfabeticamente, há sinais que indicam a necessidade que se deve procurar o médico de família sem demora. O manual enuncia as fontes que devemos consultar em caso de aconselhamento (serviços de urgência, entidades que facultam consulta de planeamento familiar, farmácias, instituições que fazem testes, etc. De acordo com os autores, consideram-se problemas da saúde do homem os relacionados com o aumento de peso, várias manifestações da dor (abdominal, ouvidos, barriga da perna, costas, braço, joelho, tórax, ânus, testículos e pénis, cabeça e garganta e articulações) erupções cutâneas, gânglios inchados, hemorragias, impotência, infertilidade, nariz entupido, perda de desejo sexual, problemas vários (deglutição, ejaculação, visão, unhas, pénis, sono e urinários), ruído nos ouvidos, sangue na expectoração, na urina ou no esperma, estados de depressão e vómitos.
É uma obra que privilegia sempre a questão do nosso viver saudável, ou seja dos estilos de vida onde cabem as atenções que devemos dar ao nosso corpo e a sermos zelosos com os sinais que devemos atender em autodiagnóstico: para vivermos melhor, para cuidarmos das despesas da saúde, para sermos mais responsáveis com o que comemos, com quem nos relacionamos, inclusive com os profissionais de saúde.

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