Óbidos, organizou o Festival Literário “Folio”, que decorreu entre 15 e 25 de Outubro, com o enorme sucesso, por todos reconhecido.
Caldas da Rainha, organiza o Festival de Jazz, entre 30 de Outubro e 7 de Novembro e atendendo ao “cartaz” e ao modelo organizativo, tem condições para ser outro sucesso.
O Presidente da Câmara de Óbidos, terá segundo o próprio, convidado outros municípios (imagine-se quais) a integrarem a organização do seu festival, mas nenhum se terá mostrado interessado na partilha.a
Cada Município teve o SEU festival.
Imagine-se agora o que seria, se os dois Municípios tivessem partilhado entre si, a organização dos dois eventos.
Desde logo, ambos os Concelhos teriam 19 dias de animação cultural, ao invés de apenas 10 e 9 e o proveito que daí advinha. Ganhavam os municípios em promoção, ganhavam os cidadãos, ganhava a economia, ganhavam todos. Toda a diferença.
Imaginemos um exemplo prático. Óbidos teve entre os diversos concertos que animaram o festival, alguns que esgotaram por completo o auditório, com uma capacidade de cerca de 300 lugares e muitos interessados ficaram de fora. Caldas da Rainha, possui uma sala de espetáculos com excelentes condições, para 660 lugares. A partilha, teria permitido que muitas mais pessoas fossem contempladas. Ganhava-se em receita de bilheteira e em promoção.
Por sua vez, Caldas da Rainha usufruía da marca que Óbidos construiu ao longo dos anos, cuja chancela é fácil de reconhecer em termos internacionais. Mais uma vez ganhavam todos.
Nestas circunstâncias, os custos seriam repartidos, tal como os proveitos, só que potenciados pelas sinergias criadas. Mais uma vez, todos tínhamos a ganhar.
Mas isso somos nós a pensar e certamente a pensar mal.
Os festivais, são apenas um pequeno exemplo de muitos que se podem usar, para tipificar o tanto que Caldas e Óbidos perdem, em não partilharem vontades, ideias, estratégias, modelos, etc… e acima de tudo, recursos.
O que temos em comum, é incomparavelmente mais do que aquilo que nos separa. Foi a própria natureza que começou por nos impor a comunhão de recursos, neste caso hídricos e ambientais.
Quanto já teríamos poupado ao país, se uma draga em permanência, na alçada dos dois municípios, tratasse da lagoa? Ou quanto teríamos ganho se as margens estivessem ligadas por uma simples ponte? Aparentemente, são mais exemplos que todos percebemos. Mas não, nem todos percebemos.
Como se não bastasse, estamos perante essa bizarria, de cada um andar a tratar (e será que anda mesmo?) do seu complexo termal.
Ou essa evidência, para alguns, de uma ligação pedociclopédica entre os dois núcleos urbanos, potenciando o que culturalmente ambos têm para oferecer.
Mas isto somos nós os ignorantes, a palpitar. Á luz de algumas mentes iluminadas, nada disto faz sentido.
Óbidos, parece que desafiou outros municípios a integrar a organização do Festival Literário, não sabemos se terá desafiado “Ranholas de Cima”, “Estribeiras de Baixo”, ou se municípios mais próximos. A ser assim, será que Óbidos já percebeu que a sua capacidade organizativa, está a ultrapassar a sua própria dimensão territorial e necessita de se alargar? Se assim for é bom sinal e é sintoma de que tem noção da realidade.
Sem fantasias, é urgente percebermos que os recursos, para construção de equipamentos culturais, desportivos, ou quaisquer outros, estão esgotados e mal chegam para manter os que existem. O tempo da partilha, há muito que chegou, mas poucos perceberam, até ao dia em que alguém nos venha impor o óbvio.
Um passeio de bateira, é um tónico eleitoral apelativo, mas tão enganador e ridículo, quanto desprovido de intencionalidade.
E quando sabemos que todos somos prejudicados, nem nos interessa saber quem são os culpados. Porque sabemos quem são.
A lógica segundo a qual “este festival é MEU” e “aquele festival é teu”, é simplesmente patética. Mas… partilhar o pedestal? isso é que nunca.
Rui Gonçalves
rgarquito@sapo.pt