2015 – 2025 – Dez anos desde a “partida”
António, Inês e Filipa prestam homenagem de recordação e saudade
Faleceu (talvez esperadamente) na passada semana uma médica caldense, que marcou os cuidados de saúde do concelho nas últimas décadas, como outros médicos o haviam feito antes.
Leonor Salvo, era nos tempos atuais (e também desde que começou a exercer o seu múnus na nossa região), uma “João Semana”, no sentido que Júlio Dinis, caracterizava o médico próximo da família, que se interessava por todos os membros de cada a família que dela se acercavam, e que, para mais, tinha um sentido de serviço público como se esperava dum profissional desta profissão.
Antes de tudo devo aos leitores uma declaração de interesses: Leonor Salvo era minha amiga, minha “médica de família” e de boa parte “dos meus”, depois de no meu caso pessoal, ter passado pelas mãos de outros “joãos semanas” locais, como Custódio Freitas, João Vieira Pereira e Luís Pisco.
Contudo, isso não impede de dizer que ela se posiciona na senda de muitos dos médicos que marcaram, no século passado, a cidade e o concelho, como Vieira Pereira, Ernesto Moreira, Costa e Silva, Custódio Freitas, Mário Castro, Mário Gonçalves, Fernando Ferreira e continuava, referindo que a omissão de outros nomes não significa nada da minha parte.
Como se testemunha nesta edição, Leonor tinha ainda algo de comum com alguns destes e de outros médicos portugueses, que utilizavam a expressão literária ou artística para se libertar das preocupações diárias, conhecendo-se agora de forma singela, que também se dedicava nos tempos livres à pintura. É mais um elo que os liga e que me emociona.
Conheci Leonor Salvo quando veio para as Caldas da Rainha, iniciar a sua carreira e acompanhei de perto muitos dos seus projetos, como o último da criação da Unidade de Saúde Familiar D. Leonor, que por circunstâncias indescortináveis, era homónima. Nos últimos anos, vi quanto das suas preocupações e esforços se dirigiam para tornar aquela Unidade exemplar, especialmente no bom serviço prestado aos seus doentes e utentes.
Foi-lhe prometido, como aos seus colegas da equipa que acreditaram no projeto, mundos e fundos, como de instalações modelares novas de raiz, mas mesmo sem isso ter acontecido em tempo útil, não baixaram os braços e diariamente batalhavam de forma estimulante para servirem os seus utentes, sem mácula ou sem recriminações, face a um Estado incumpridor e pouco reconhecedor do trabalho feito.
Numa mensagem pessoal que enviei à sua família depois de conhecer o desenlace fatal dizia que “o mundo e a vida eram muito canalhas e injustos”, porque se havia pessoa “que não merecia tamanha provação” era ela.
Reconheço que são afirmações bastante duras e que não têm em conta os desígnios da natureza e do destino, mas de forma alegórica e dura significam tudo o que me ia no pensamento.
Paz à sua alma e espero que a cidade onde trabalhou com denodo cerca de três décadas saiba reconhecer o seu tributo aos seus concidadãos. ■ JLAS