Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora
Primeiro, não posso deixar de comentar os resultados das eleições da semana passada. Para mim, é incompreensível aceitar que um país que viveu uma ditadura, que lutou tanto para ter um 25 de Abril e por direitos fundamentais como o 1º de Maio e a igualdade das mulheres, agora pareça esquecer-se da história. Após tanta opressão, tortura e sofrimento é muito difícil aceitar que a população se esqueceu de quem lutou por nós, pelos nossos direitos, para que agora demos tudo a perder. Existe um grande descontentamento, legítimo, mas porque o partido A e o partido B não dão as respostas necessárias, não é solução votar no partido C apenas por protesto.. apenas para abanar! Quando esse partido que é tão contra a corrupção, dos 58 deputados eleitos, 23 já se cruzaram com a justiça ou estiveram envolvidos em polémicas. Um partido que não tem propostas nem soluções para os problemas do país… mas que apenas tem acusações vagas e põe todas as culpas na imigração.
Mas, pior do que os resultados das últimas eleições em Portugal, é o genocídio que continua em Gaza! A falta de ação da União Europeia é assustadora! SÓ AGORA, passados 1 ano e 7 meses, começou-se a discutir as relações económicas e políticas com Israel, quando este estado assassino deixou Gaza sem acesso a ajuda humanitária e a alimentos durante vários meses, deixando milhares de crianças e adultos à beira da morte por desnutrição. A falta de consenso para suspender as relações comerciais com Israel é revoltante, mas há agora uma maioria de 17 países que quer verificar formalmente se Israel está a respeitar os direitos humanos, conforme previsto no acordo de associação com a UE. Em contraste, Paulo Rangel lamentavelmente continua a recusar falar em genocídio, e o Governo português, continua a achar que ainda não é o momento para reconhecer o Estado da Palestina. A pergunta que fica é – QUANDO?
Esta semana, a Irlanda foi pioneira ao anunciar um plano de sanções a Israel, banindo transações comerciais com esse estado.
Enquanto isso, a administração de Donald Trump enviou questionários a universidades portuguesas com programas financiados pelo seu Governo sobre ideologia de género, ligações a terrorismo e influências “malignas” da China. Continua ainda a reprimir as manifestações contra Israel e a guerra em Gaza e avisa que avisa que a detenção de estudante pró-Palestina será a “primeira de muitas que virão”.
Tudo isto acontece e onde está a indignação da população? Estará toda no futebol?
No Festival da Eurovisão 2025, Portugal atribuiu a pontuação máxima (12 pontos) a Israel no televoto, ignorando as grandes controvérsias que envolvem a sua participação no evento. Há quem defenda a exclusão de Israel da Eurovisão, assim como aconteceu com a Rússia, mas a resposta do público parece ser indiferente.
E, por fim, a pergunta que não posso deixar de fazer: onde está a nossa humanidade?
Por último, assistimos também a uma onda de propaganda contra o direito à interrupção voluntária da gravidez na televisão nacional. Como é possível? Este é um direito conquistado, uma luta de muitas mulheres, e a escolha deve ser sempre da mulher.
Gostaria de aproveitar este espaço para pedir desculpas ao povo palestino, um povo digno, acolhedor e resistente, que nos ensina tanto. Peço-lhes desculpas, pelo que o meu país está a fazer conjuntamente com a União Europeia, uma instituição da qual, francamente, sinto vergonha. Não em meu nome, não em nosso nome.
Quem sabe, um dia, muitos adultos, irão pedir desculpas aos seus filhos, sobrinhos e netos pelo mundo que lhes estão a deixar.