Na cerâmica… como no termalismo

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Caldas da Rainha é membro, desde há alguns meses, da Associação Europeia das Cidades Históricas Termais e da Associação das Termas de Portugal. Também foram agora desenhados em calçada portuguesa, em “passeios” da cidade, logotipos alusivos às termas. Isto é marketing. Mas isto faz das Caldas uma cidade termal? Não. Temos “só” água, não temos termas. Queremos e podemos voltar a ter, mas não sabemos quando. Ou seja, induzimos em erro as pessoas que nos visitam.
Também somos um dos membros fundadores da recém-criada Associação Nacional das Cidades Cerâmicas. Faz sentido? Teoricamente e a fazer jus ao passado, faz.
Após a queda da indústria cerâmica em Portugal, sobraram em Caldas da Rainha dois exemplos de média dimensão, apenas dois exemplos de que nos orgulhamos e ainda algumas unidades de indústria de pequena dimensão. São os heróis que sobraram da hecatombe que se abateu sobre uma das mais importantes áreas da economia do concelho e que contra tudo e todos, conseguem continuar a criar empregos e a gerar riqueza. E isso faz de Caldas uma cidade de cerâmica? Só por si, não.
Temos então, vários artistas de enorme qualidade, intérpretes da chamada “cerâmica de autor”, muitos deles formados na escola do Cencal, outro marco fundamental da “cidade da cerâmica”, que fazem pela vida, exclusivamente por si e levam o nome de Caldas da Rainha às mais diversas paragens. E aqui começa a interrogação. O que é que tem sido feito por estes artistas? Que se saiba e na prática, pouco ou nada.
Por exemplo, para quem pretende ser uma “cidade de cerâmica” e deve haver unanimidade neste desígnio, o que se diz a um visitante recém-chegado? Que tipo de informação existe e lhe é prestada? Onde está essa informação?
Não se diz nada, porque não há informação, em lado nenhum. Nem sobre a existência do Museu da Cerâmica, outro elemento fundamental na criação desse desígnio da “cidade de cerâmica”.
Onde se localizam os diversos ateliers dos excelentes artistas que por cá existem, ninguém sabe, porque cada um está no seu “canto”, isoladamente e por sua conta, a produzir a sua arte. Não é por isso possível anunciar a quem nos visita, onde e quando pode ver esses artistas a trabalharem ao vivo e acima de tudo, fundamental para a sua sobrevivência, adquirir e consequentemente, divulgar a sua arte e a tal “cidade”.
E sobre estes artistas não se pensou juntar num espaço comum aqueles que estejam interessados, cada um com o seu atelier, mas com espaços expositivos e outros serviços de apoio, com criação de sinergias e evidente redução de custos. Em suma, um Centro Cerâmico, onde fosse possível a coexistência, benéfica para cada um deles e para a cidade, pela possibilidade de ter ao vivo, forma de mostrar a tal “cidade da cerâmica”.
Quantas coleções particulares, constituídas por milhares de riquíssimos exemplares, existem por aí encaixotadas, depositadas em sótãos e caves, sem que contribuam, também elas, para a concretização dessa “cidade da cerâmica”? Algumas. Ou quantos dedicados estudiosos da matéria, estão por aí, com conhecimento científico ou empírico acumulado, sem que sejam considerados parceiros, nesta construção da “cidade da cerâmica”? Vários.
É todo este imenso e valiosíssimo “espólio cerâmico”, constituído pela história, pelos museus, pelo Cencal, por colecionadores, historiadores, estudiosos, por artistas e pela indústria, que urge unir por um desígnio e articular, para que o possamos concretizar. Um todo, para fazer um “produto”.
E então sim, vamos ser a “cidade da cerâmica”, de dimensão internacional, como um grande polo de atração de visitantes. Até lá, não somos coisa nenhuma, porque há muito por fazer.
Como no termalismo, também na cerâmica, o marketing divulga e promove o produto, mas é preciso que ele exista. E também como no termalismo, temos tudo para termos tudo e temos tão pouco.