“Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.”
Padre António Vieira
O relançamento do termalismo em Caldas da Rainha, amplamente divulgado no último número da Gazeta das Caldas, é uma boa notícia para a economia local, sendo de valorizar igualmente a sua importância para a promoção da saúde e bem-estar das populações. Não há como negá-lo!
Compreenderão, no entanto, que em matéria do futuro da Saúde na região, a preocupação maior seja com os Cuidados Hospitalares de agudos. Ao fechar este ciclo de crónicas, torna-se, pois, incontornável regressar ao tema.
Em junho deste ano, ocorreu o debate promovido pelo Conselho da Cidade sobre a necessidade de um novo Hospital para o Oeste, onde se verificou um amplo consenso técnico e político. Em setembro, foi criado um Grupo de Trabalho, englobando representantes da administração central e das autarquias, para estudar o perfil dum novo Hospital. Desse Grupo de Trabalho não mais houve notícias, pelo menos que sejam do nosso conhecimento. E não será certamente porque o assunto tenha morrido…
Assistiremos, nos próximos anos, à evolução da cirurgia robótica, ao uso de novas aplicações informáticas, ao crescente contributo da Inteligência Artificial nas decisões médicas, ao alargamento da Telemedicina e ao desenvolvimento da Medicina de Precisão (que monitorizará a saúde de cada um e antecipará o risco de cancro e de outras doenças e desenvolverá tratamentos individualizados), porém nada disso, nem mesmo a hospitalização domiciliária já, felizmente, praticada entre nós, substitui a necessidade de uma nova estrutura hospitalar que sirva condignamente uma região tão comprovada e sistematicamente carenciada. Uma boa política de coesão territorial, assumida ao nível do Governo com a dignidade de um Ministério próprio, não se compadece com tão gritantes assimetrias como aquelas que se verificam ao nível dos Cuidados Hospitalares. O Oeste merece a atenção que há tanto reclama! Dou a importância devida aos Grupos de Estudo. São, aliás, necessários para fundamentar boas decisões, mas não podem servir para fingir que há empenhamento, ou para procrastinar.
No âmbito da Saúde hospitalar, é uma boa notícia a mudança do Montepio Rainha D. Leonor para novas instalações. É uma instituição mutualista, de solidariedade social, com mais de um século e meio de existência, reconhecida, com tradição na área de prestação de cuidados de saúde, para a qual se deve olhar numa lógica de complementaridade com o setor público.
Por outro lado, a construção de novos centros de saúde e a existência de novas Unidades de Saúde Familiar, bem como a colocação de jovens médicos de Medicina Geral e Familiar abrirão certamente boas perspetivas para a Região.
Para finalizar, e recorrendo a Drummond de Andrade, deixo-vos os meus votos de Próspero Ano Novo “não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser”.
António Curado
curado.a@gmail.com