Ana Sá Lopes
jornalista
É muito difícil explicar como o facto de o José Luiz Almeida e Silva me ter convidado para ser diretora por um dia desta edição da “Gazeta das Caldas” me tocou em cordas sensíveis. A “Gazeta” tem para mim um valor afetivo enorme, porque foi o primeiro lugar onde comecei a ser jornalista, foi o jornal que publicou os meus primeiros textos, primeiras entrevistas, etc. E nessa altura, como depois, foi sempre um espaço de liberdade, que não teve medo de afrontar poderes.
Confesso que quando fui estudar para Lisboa com o objetivo de ser jornalista, a minha ideia era, depois de aprender o que pudesse na “grande cidade”, regressar à minha terra para me dedicar ao jornalismo local. Essa ideia de juventude nunca se apagou. Sou muito feliz a fazer o que faço atualmente – trabalho como redatora-principal do PÚBLICO, da qual tive o privilégio de ser fundadora – mas continuo a pensar que o jornalismo regional é uma grande causa, porque dá voz a comunidades que não têm voz, por viverem longe dos grandes centros, num país tão centralista como é Portugal.
O jornalismo de proximidade é mais complexo – como o trabalho do Joaquim Paulo aqui explica nestas páginas – mas não menos desafiador. Se é um facto que jornalistas e poderes públicos (e privados) partilham a mesma comunidade, a mesma história, criam relações de amizade – nesta edição entrevisto um antigo colega de liceu, Vítor Marques, que não consigo deixar de tratar por “tu” – a verdade é que, a nível nacional, também existem “proximidades” provavelmente menos escrutinadas do que a relação entre poderes e jornalistas que trabalham para órgãos de comunicação local.
Não poderemos viver em democracia sem uma imprensa livre. E não teremos uma democracia completa enquanto a voz de comunidades inteiras for ignorada pelos poderes centrais – veja-se o caso do Hospital das Caldas. E para dar voz a todos o papel da imprensa regional é in-substituível. Ajudá-la a crescer tem de ser um objetivo de todos os democratas.
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