O novo Hospital do Oeste

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Joana Louro - médica
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Joana Louro
médica

Foi notícia da semana! O novo Hospital do Oeste está incluído no Orçamento de Estado. Sou uma otimista por natureza e vejo sempre o copo meio cheio. Mas tenho dificuldade em entender o entusiasmo. É certo que a referencia ao novo hospital aparece num paragrafo da pagina 273 da proposta do orçamento… que ainda nem aprovado está. E mesmo depois de estar… que esperamos que esteja… ainda a procissão vai no adro… Ou não tivéssemos a historia do Hospital de Todos os Santos em Lisboa, que não fez proverbio, mas foi anedota e só agora teve a primeira pedra lançada. Com a pompa e circunstancia que tanta demora exigia.
Tenho estado a fugir ao tema, por vários motivos, mas a inevitabilidade encurralou-me esta semana. É indiscutível a pertinência e urgência de um novo hospital no Oeste. Que tem de ser novo e único. O modelo de centro hospitalare com unidades distanciadas por dezenas de quilómetros não funciona e é desastrosa do ponto de vista de gestão de recursos humanos e financeira, não serve a população e não assegura qualidade nos cuidados.
Mas discutir o novo Hospital do Oeste não é (apenas) discutir a sua localização. E se discutirmos seriamente o que realmente devemos discutir – sustentabilidade, capacidade de captação de recursos humanos diferenciados e de qualidade, inovação, criação de projetos e modelos diferenciadores – será relativamente simples concluir a melhor localização. Que obviamente não deve responder a estudos geográficos feitos com régua e esquadro. Porque não é assim que se pensa Saúde. E será muito simples localizar o novo hospital em Caldas da Rainha/Óbidos.
Mas o novo Hospital – ou a sua miragem – não vai resolver os problemas da Saúde no Oeste. E ás vezes sinto que tanto ruido apenas promove distração e nos desvia do essencial. Porque o futuro da Saúde, no Oeste, no País e até no mundo não pode passar por camas hospitalares. Mais uma vez por uma questão de sustentabilidade e até de sobrevivência. O futuro da saúde tem de passar por cuidados de saúde primários estruturados, organizados, diferenciados e de proximidade. Passa pela prevenção e pela promoção da Saúde. E pela gestão da doença crónica. No mundo ideal os cuidados hospitalares deveriam estar limitados a situações muito particulares. E maioritariamente assentes na hospitalização domiciliária e nos cuidados ao domicílio.
Falar e discutir Saúde hoje não pode ser redutor. Porque é um tema complexo que exige muito conhecimento técnico/científico e um tremendo investimento financeiro. Precisa de determinação politica mas não deve responder a enquadramentos políticos. Não pode tolerar erros. Porque cada erro terá um preço demasiado elevado. Discutir Saúde implica antecipar o futuro e prepará-lo, inovando, num compromisso serio com o ambiente e com as novas gerações. ■

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