Ontem, hoje e amanhã

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João Frade
jurista

Encontrei no outro dia, no site da Cinemateca Digital Portuguesa, um documentário muito interessante sobre Caldas da Rainha chamado “Passeio às Caldas”. Este filme, com cerca de 21 minutos, foi produzido pelos Laboratórios da Tobis em 1957, tendo sido encomendado pela Câmara Municipal de então, com o objectivo de promover o turismo, em especial o nacional, em Caldas da Rainha.
O filme começa com uma família, a sair de carro de Lisboa, para vir passar o domingo em Caldas da Rainha. Dizia-se no filme que era uma viagem de menos de duas horas.
A primeira paragem foi na Praça da Fruta, apresentada como a grande ex-líbris das Caldas, onde se podia ver a venda de fruta, legumes, flores e de cerâmica pelos “camponeses das redondezas” como referido no filme. Os produtos que se vendiam então e os que se vendem hoje são basicamente os mesmos. Provavelmente a maior evolução feita na Praça da Fruta nos últimos anos foi a uniformização das bancas dos vendedores. Confesso que ver, pela primeira vez, o trânsito a passar na rua “das montras” e a circular nos dois sentidos na rua Heróis da Grande Guerra me fez uma certa confusão. A decisão de criar ruas e zonas pedonais tornou o centro da cidade mais bonito e seguro.
Não deixa de ser curioso que, sendo referidas várias formas de chegar a Caldas (de carro, de mota, de camioneta ou até de boleia), não se menciona o comboio. Não seria a linha do Oeste, já em 1957, um meio de transporte atractivo ou competitivo, apesar da viagem de carro demorar então quase duas horas? Também, estranhamente, não se encontra qualquer referência ao Hospital Termal. Não se considerava ser este um pólo de atracção? Ou seria apenas visto como um estabelecimento de saúde?
São impressionantes as imagens do Parque D. Carlos. Apresentava uma imagem mais cuidada e ordenada do que aquela me parece que tem hoje. As imagens dos campos de ténis transmitiam um ar de classe ao espaço.
Sobre eventos desportivos surgem ainda imagens de um jogo de futebol do Caldas SC, que na altura estava na 1ª Divisão (e que deu a oportunidade para as minhas filhas poderem ver o bisavô a jogar), bem como imagens das famosas provas de hipismo das Caldas.
Em termos culturais o filme destaca a Igreja de Nª Sª Pópulo, o Chafariz das 5 bicas, as peças de mestre Elias e claro as obras de Rafael Bordalo Pinheiro e de José Malhoa. A Lagoa e a Foz do Arelho, são apresentadas como as paisagens naturais de destaque e de facto elas têm sido o maior chamariz de turistas e as grandes mais-valias para o desenvolvimento da economia do concelho nas últimas décadas.
Por fim, vi recentemente o último filme de promoção do concelho feito, neste ano, pela autarquia e ao comparar com este, produzido em 1957, é possível ver que Ontem e Hoje se continuam a promover essencialmente as mesmas coisas de Caldas da Rainha. Se por um lado é importante manter e saber promover a nossa tradição e cuidar do nosso património, para o Amanhã é preciso criar novas atractividades e saber reinventar-nos. Não podemos passar mais 70 anos a promover sempre e apenas as mesmas coisas. ■

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