PAÇOS DO CONCELHO | As rotundas

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jorgevarela
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Poucas cidades em Portugal terão mais rotundas do que as Caldas da Rainha. Pelo menos se tivermos em conta a dimensão da cidade. Isso faz dos caldenses verdadeiros “rotundólogos”.

Não serve esta crónica para criticar a loucura das novas regras de circulação dentro de rotundas mas apenas para demonstrar que os caldenses perceberam, porventura melhor do que os habitantes de outras cidades do país, que, tal como um rio dá a volta a uma montanha no seu caminho para o mar, por vezes é melhor contornar os obstáculos para poder seguir em frente do que tentar embater cegamente nesses mesmos obstáculos.
Tal como uma rotunda serve, e bem, para distribuir o trânsito sem os inconvenientes de um cruzamento tradicional, nas Caldas sempre nos habituámos a dar a volta às situações e evitarmos, dessa forma, “choques” desnecessários. Um bom exemplo disso mesmo é o património termal, que estava a degradar-se com a gestão estatal e, contrariamente ao que muitos aconselhavam, a Câmara Municipal teve a coragem de assumir a sua gestão. Se a autarquia tivesse ouvido as vozes daqueles que são sempre contra tudo, teria enfrentado o poder central, exigindo que fosse o governo a restaurar e a continuar a gerir aquele património. O resultado seria dramático: se o Estado até na educação retira o financiamento a escolas que estão a proporcionar ensino público às nossas crianças, certamente não iria gastar mais dinheiro dos contribuintes para melhorar a gestão do nosso património termal. Assim, como especialistas em rotundas que são, os caldenses deram a volta à situação e hoje é com esperança que aguardamos pela reabertura do Hospital Termal, já para não falar do prazer que é passear no Parque, que se encontra muito bem cuidado pela Junta de Freguesia.
Mas as rotundas também têm os seus inconvenientes. De tanto andarem à roda, alguns caldenses habituaram-se a não sair do lugar, não evoluírem e ficam, vezes sem conta, a reclamar e a dizer mal de algo sem se aperceberem que apenas estão a dar a volta à rotunda mas não saem para lado nenhum. Pior do que isso são aqueles que não perceberam que, quando se entra numa rotunda, convém saber ao certo qual o destino que se pretende seguir. Entrar na rotunda e depois sair numa saída qualquer é arriscar voltar para trás e desperdiçar o trajeto que já se havia feito.
Ora, é isto que muitos portugueses, que não os caldenses, ainda não perceberam. Com a alteração que ocorreu após o derrube do governo eleito nas últimas eleições, em que a oposição se uniu para tomar o poder, aproveitando o facto de não poderem, naquela altura, e por imperativo constitucional, serem marcadas novas eleições, Portugal entrou numa rotunda sem saber por qual saída deveria seguir. Os vários partidos que agora apoiam o governo defendem ideias contrárias e, assim, o governo vai navegando à vista, cedendo aqui e ali, saindo da rotunda por onde o trânsito lhe parece menos congestionado, mas sem se perceber que, na verdade está a voltar para trás.
Se não vejamos: o desemprego, que já estava a diminuir após o embate das reformas impostas pela Troika para nos emprestarem o dinheiro suficiente para sairmos da bancarrota, voltou a aumentar. As exportações que, honra seja feita aos nossos trabalhadores e empresários, batiam recordes sucessivos, voltaram a cair. O défice que, se não tivesse sido a pressa de António Costa em “vender” o BANIF, ficaria finalmente abaixo dos três porcento, parece estar novamente a descontrolar-se.
Enfim, bairrismos à parte, as Caldas bem que podiam dar uma lição sobre como conduzir nas rotundas a quem tem, por ora, a responsabilidade de conduzir o país.

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