«Pirilampos da alma» de António Moreira Pinto Carvalho

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Pirilampos da almaEste livro de 2014 tem um antepassado em 1965, trata-se de «Poemas para rezar» de Michel Quoist (Morais Editora). O conceito desse livro de 1965 é parecido com este recente de António Moreira Pinto Carvalho: juntar palavras do Novo e do Antigo Testamento com poemas actuais. No caso de Michel Quoist na página 84 surge um excerto do Evangelho de S. Mateus: «pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado.» A segunda parte do «poema-resposta» às palavras de S. Mateus começa com estes versos: «Tomei a palavra, Senhor, e estou inquieto / Tenho medo de falar porque é grave / É grave incomodar os outros / fazê-los sair de casa.»
Quarenta e oito sonetos e quatro gravuras são a resposta de António Moreira Pinto Carvalho às sugestões e convites das palavras das Escrituras ma não só; também o Catecismo da Igreja Católica, algumas Encíclicas, um texto de Bruno Forte e outro de Deuceli Kwiatkoswki. Os seus sonetos são, num certo sentido, também poemas para rezar, dado que todo o poema é uma forma de oração pois o poeta junta de novo dois mudos separados pela distância.

Começando por se identificar, o autor apresenta-se: «Sem Ti não sei quem sou neste deserto / de areias que se mexem e no vento / transportam a ambição e sonho incerto / de abrir a porta à luz no firmamento». Para, logo de seguida, lembrar as palavras de Jesus para Simão: «Faz-te ao largo, não temas porque o mar / que é tão largo e tão fundo não se nega / a molhar de mistério o teu olhar / a encher de ousadia a tua entrega.» E conclui: «Eu vou escrever o sonho deste dia / que Deus em mim escreveu com alegria / e vou fazê-lo carne, sangue e vida: / O mundo é meu lugar e meu caminho / não sou forte de amor p´ra ser sozinho / dá voz à minha voz na foz escondida!».
A viagem entre as palavras e a vida tem como resultado o retrato do autor na página 91 e o título do livro: «As palavras que escrevo são fragmentos / de uma vida que teço dia a dia / são encontros de fé e são momentos / de um silêncio que fala; são poesia / são caminhos humanos onde os ventos / se dirigem à fonte da alegria / pirilampos da alma, pensamentos / pão de letras que em prece me sacia. / As palavras que escrevo e que dou / são pedaços da histórica aliança / entre mim e o Deus que me criou; / são mergulhos no mar da confiança / vocação que em amor desbrochou / e na Cruz tem luz e temperança.»
(Paulinas Editora, Introdução: José Manuel Garcia Cordeiro ( Bispo de Bragança-Miranda), Capa: Tsuneaki Hiramatsu)