Importa felicitar os autarcas de Torres Vedras e do Bombarral, que ao longo dos últimos anos cumpriram escrupulosamente, com estratégia, dedicação e inteligência, as funções que lhes competem, criando o ambiente e usando os contactos políticos de bastidores, que são sempre decisivos nas tomadas de decisão dos grandes investimentos do Estado, garantindo desta forma a construção do novo hospital do oeste, na sua área de influência e no seu concelho, respetivamente, ao contrário de outros, que assistiram passivamente durante anos, ao desenrolar dos acontecimentos, permitindo que as populações que os elegeram, fossem severamente prejudicadas. Foi isto que aconteceu em Caldas da Rainha. Para o bem e para o mal, e o bem de uns, é quase sempre o mal de outros, sempre foi, é e será assim que o Estado funciona e decide, há valores mais altos que se sobrepõem aos critérios de avaliação territorial que deviam presidir às decisões de quem governa, mas nunca foi nem será assim.
Caldas, há décadas que perdeu a força política e a capacidade de influenciar os órgãos decisores no momento e nos lugares certos e por isso, perde. Não adianta tentar tapar o sol com a peneira, esta perda irreparável para as Caldas, tem culpados, depois da indústria e do termalismo, agora perde “só” o maior empregador do concelho e isto é dramático para as populações mas também para a economia local. As movimentações e as tentativas levadas a cabo no último ano e meio, pelo atual executivo municipal, não foram suficientes para fazer reverter uma decisão, que embora não anunciada, há muito estava tomada. Caldas acordou muito tarde, depois de um prolongado e tenebroso sono, que tudo permitiu em seu prejuízo, sem capacidade política, sem estratégia, sem interesse, sem competência.
Evidentemente que uma decisão isenta e séria, tomada em função de critérios rigorosos de análise territorial, nunca permitiria que o local escolhido deixasse de ser o que os municípios de Caldas, Óbidos e Rio Maior defenderam ultimamente, na confluência dos dois municípios, junto aos acessos da A8, A15 e IP6, com acessibilidade direta pela via ferroviária do oeste e esta é desde logo uma falha clamorosa na escolha do local, ao não garantir a proximidade daquele eixo ferroviário, por todas as razões óbvias.
Todos sabemos que o estudo encomendado pela OesteCim, dominada por socialistas, a uma universidade, teve a exclusiva intenção de servir de argumento à escolha, não foi mais do que uma manobra de diversão, tal como a criação de uma tal comissão, daquelas coisas que se inventam para fazer de conta, com o pormenor maquiavélico de ser presidida por uma ex ministra socialista, claro, natural da Lourinhã e como tal parte diretamente interessada em arrastar para sul a localização do hospital. Se a estas fraudes do estudo e da comissão, juntarmos o facto de um secretário de estado da saúde durante a época de decisão, mais um socialista, claro, ser do Bombarral e de um secretário de estado destas “coisas” do território, com influência direta neste tipo de decisões, ter sido presidente da Câmara de Torres Vedras, então o caldeirão socialista que tramou as Caldas está armado e tramou mesmo.
Caldas perdeu o hospital, como anda há anos a perder, por falta de capacidade e credibilidade política, mas neste caso não foi só Caldas que perdeu, foi toda uma região e o território em geral. Quando se arrasta inexplicavelmente a localização de uma unidade hospitalar para um território já de si mais bem apetrechado, como é o caso de Torres Vedras / Lisboa, aumentado a oferta de cuidados de saúde e se ignora a área desguarnecida, deixando as populações ao acaso, a isto chama-se, atentado à coesão territorial. Coesão territorial, que por acaso tem um ministério, com ministra e tudo, embora neste processo se tenha auto excluído, numa atitude colaboracionista com a trama socialista, ministra que passa os dias pelo país a falar de coesão territorial, ignorando o que isso é.
Para que se perceba a leviandade com que o governo socialista tomou esta decisão do hospital, basta reparar, que para se fazer uma simples revisão de um PDM – Plano Diretor Municipal, são envolvidas mais de duas dezenas de entidades, com pareceres obrigatórios, no entanto, para um investimento de cerca de 150 milhões de euros, decisivos para a saúde e para as vidas de centenas de milhares de pessoas, bastou um estudo encomendado e pago, com resultado previamente combinado.
Por resultado previamente combinado, importa questionar, o que é que Caldas está a fazer na OesteCim, por quem tem sido sistematicamente ignorada e prejudicada? Nada. Caldas serviu apenas para pagar parte do edifício sede daquela entidade, com os impostos da sua população. Evidentemente que há muito devia ter saído. E aquele edifício era à medida, uma solução para uma Loja do Cidadão, essa sim, com utilidade para a população. É preciso, de vez em quando, ter a coragem de decidir e de zelar pelos interesses dos munícipes, mesmo que para isso seja necessário dar um murro na mesa, ou, porque não, um pontapé no teto.
É tempo dos caldenses acordarem do profundo sono de décadas e em próximas eleições se recordarem quem os andou a tramar, seja a nível local como nacional e na hora do voto ficarem atentos.
Mas note-se e verdade seja dita, Caldas perde, mas às vezes também ganha. Por exemplo, há por aí um tal “caldas late night” e agora até ganhou a marcha dos LGBTIQ+++, esses extraordinários eventos com grande interesse para a economia local, que arrastam multidões até à cidade.
Acordai povo, acordai.