Qualquer campo de atuação da atividade humana pressupõe a obtenção de gratificação, quer pela satisfação do reconhecimento quer por prémio pessoal.
O português que se recolhe aos domínios da atividade profissional e da sua vida privada refastelado no sofá, na esplanada a ler jornais desportivos e revistas cor de rosa, pelas plateias, por bancadas e redes sociais, é certamente menos consequente do que aquele que, voluntariamente, se arrisca a entrar na arena pública porque “Quem anda à chuva molha-se”. O que para alguns, demasiados, não sendo opção por convocar excessivas energias e provocar o insuportável desconforto de ficar exposto a alergias, não os impede de tecer comentários pouco conscienciosos. É que “A dor de cotovelo faz falar muita gente”.
A iniciativa de intervenção está assim restringida ao domínio da reação, mas precisa passar a ser uma prática contínua. Uma dinâmica de participação nos processos sociais envolventes que não pactue com a inevitabilidade de um sistema de tragédia pela mera observação da inevitabilidade da cadeia de eventos como sendo “Cegos, surdos e mudos”.
Sem isso ocorre a corrupção que compromete o interesse e o compromisso com o bem comum que alguém, a troco do suborno, aceitou o ilícito de atribuir uma vantagem indevida a outrem com benefício para si próprio. Favorecimento este que implica sempre o prejuízo de alguém e, “Os outros que se amanhem”. A ela estão expostos os que alcançam e acumulam poder, mas tendencialmente sucumbem-lhe apenas os demasiado condescendentes consigo mesmo, complacentes com a sua própria virtude, e demasiado ingénuos em relação ao perscrutar da sociedade e dos seus antagonistas. Na ausência de ceticismo pessoal contagiam-se com “Presunção e água benta: cada qual toma a que quer”, por vaidade e orgulho excessivos.
A determinada altura passam a tomar a existência e a inteligência dos outros como dados irrelevantes e transformam-se em “Chicos Espertos”. Ao avaliar mal a determinação dos que lhes podem fazer oposição e ao enveredar pelo caminho da auto-idolatria, acabam por se tornar vítimas do narcisismo que projeta a sua personalidade individual para além do ego, acabando por cair em desgraça porque “Todos os Santos Têm Pés de Barro”. A que o aviso popular “No Melhor Pano Cai a Nódoa”, parece não ser o suficiente para quebrar certos encantamentos absolutistas nacionais.
É certo que os acontecimentos de políticos, não a política como um todo, tem desgastado o ideal coletivo. Mas será o aumento da participação de todos, o contributo da não abstenção ou da militância na vida partidária que eleva a qualidade da consciência social que evitará situações que agravam o isolamento e reequilibrará a perceção da estrutura relacional e organizativa dos partidos políticos com o sentido certo para o progresso da nação.
Não podemos, nem devemos, nos deixar inquinar pela psicologia coletiva do desencanto baseado na suspeita permanente, nem sermos os arautos da lógica invertida das pessoas que somente veem um mundo caído ao seu redor através do fado do queixume.
Todos nós pertencemos a algo maior do que o limite pessoal com o qual nos definimos. A participação cívica encoraja-nos a nos tornarmos cocriadores do mundo ao nosso redor, enquanto nos aproximamos para obter uma compreensão mais profunda de nós mesmos.
Não “bastará um fruto podre para estragar todo o balaio” se participarmos numa cultura atenta a jogadas corporativas, resiliente ao doutrinamento de forças sociais que estimulam a conformidade.
Maria João Melo
rainhaemcalda@gmail.com