Joana Beato Ribeiro
bolseira de doutoramento Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Para os mais distraídos, vale a pena explicar que este texto integra a parceria “Um ano com a obra de Fernando da Silva Correia: 12 livros sobre as Caldas da Rainha”, que junta a investigação em curso, a Biblioteca Municipal e a associação Património Histórico – Grupo de Estudos. A Gazeta associou-se à mesma ao partilhar as 12 obras em destaque e ao reiterar, mensalmente, o convite para uma visita à Biblioteca, onde as pode conhecer e consultar.
“Esboço da história da higiene em Portugal” é, nada mais nada menos, que a parte final da tese de doutoramento de Fernando da Silva Correia. Obra que, na sua totalidade, foi impressa pela Direção-Geral de Saúde Pública e distribuída a todos os delegados de saúde do país; o que demonstra o carácter de exemplo e o conteúdo programático que a mesma conteria à época. Para ligar esta obra às Caldas é necessário atentar à indicação de que é “o relato de quinze anos de experiências sanitárias e médico-sociais” do seu autor, ou seja, a sua prática clínica nesta vila/cidade. É principalmente como base nesta experiência e nas suas mais pródigas investigações que identifica, sem qualquer dúvida, o atraso sanitário de Portugal, apontando a falta de verbas como principal causa. Não deixa, no entanto, de alargar a sua crítica aos poderes locais e à classe médica.
Nesta separata, Fernando da Silva Correia procura fazer a “história da higiene em Portugal”, de forma a explicar “os recursos que a moderna técnica sanitária pôe à disposição do higienista e as possibilidades financeiras e ambiente que o cercam”. Diz escrever “sob o ponto de vista do ensino e da cultura” através da “moderna técnica historiográfica”. Compõe assim quatro capítulos: o primeiro relativo ao estudo e ensino da Higiene; o segundo sobre a história institucional (dos estabelecimento de higiene) e os “costumes sanitários”; o terceiro, uma “resenha, necessàriamente monótona, das epidemias que têm sido registadas no território português”, em que são reunidos especialmente “diagnósticos clínicos”; e, por fim, o quarto, em que apresenta uma evolução da legislação e autoridades sanitárias, na sua maioria, associadas à regulação e fiscalização da vida municipal, apesar do autor se alicerçar noutras fontes, como “O Compromisso do Hospital das Caldas” (1512), exemplo das “noções e preocupações dos homens da época”.
Ao longo destas páginas, Fernando da Silva Correia enumera obras que são fundamentais para entender, tanto a história da medicina, como a da higiene. E não deixa de destacar as alterações operadas pelas “descobertas pasteurianas” neste contexto, apesar de considerar que os trabalhos de Ribeiro Sanches permitiram antecipar o que o século XIX intensifica relativamente à atividade médica e à legislação sanitária no país. O autor temia ser um “mero catalogador”, mas este é um trabalho de fôlego, que resume não só a componente prática da sua atividade, mas também a forma quase exclusiva como se dedicou à investigação historiográfica.