O título da minha crónica pretende chamar a atenção para a importância do intercâmbio de culturas para o desenvolvimento pessoal intelectual e profissional mas também para o progresso económico das cidades regiões e países.
A aversão de parte da sociedade portuguesa às ideias vindas de fora, refletida na oposição aos chamados “estrangeirados” no seculo XVII, que tentaram reformar o país com base no conhecimento do que outros países estavam a fazer para se modernizarem, foi continuada pela mentalidade do regime anterior do “orgulhosamente sós”. Infelizmente, mesmo depois do 25 de Abril esta mentalidade continuou a prevalecer em parte da nossa sociedade, da classe política e até empresarial que, num lamentável espírito de auto-suficiência, pouco interesse tinham em conhecer o que se fazia na europa e no Mundo.
A integração na União Europeia veio trazer uma lufada de ar fresco e obrigou muitos responsáveis a viajar, reunir, discutir com cidadãos de outros países (nem que fosse apenas para obter acesso aos fundos europeus). Para muitos empresários só mais tarde, com a crise de 2011, é que deixaram de produzir unicamente para o mercado português e começaram a apostar na internacionalização das suas empresas.
A União Europeia dispõe de um conjunto significativo de programas de intercâmbio, que procuram combater esta aversão a outras culturas que pode conduzir a fenómenos como a xenofobia, o populismo e mesmo a guerra.
Destaco o programa ERASMUS, que possibilita a jovens estudantes universitários uma experiência numa universidade noutro país aderente. Este Programa, em que muitos jovens e políticos da nossa região já participaram, criou a chamada “geração ERASMUS” de jovens com um verdadeiro espírito europeu mais abertos ao exterior, inovadores e dispostos a assumir riscos profissionais e investir em negócios com dimensão europeia ou global.
É consensual a afirmação de que este programa fez mais pelo ideal Europeu que muitos outros mais dispendiosos programas europeus ou centenas de discursos dos mais inspirados políticos.
O intercâmbio cultural permite-nos conhecer melhor outras pessoas, culturas, aprender com os seus sucessos e evitar os seus erros. Permite igualmente dar a conhecer as nossas ideias e promover os nossos valores, a nossa região e o nosso país.
A região, nos últimos anos, tem assistido a um crescente processo de internacionalização quer económica quer cultural.
A designação, em 2015, de Óbidos como uma das cidades criativas da UNESCO na área da literatura foi um marco importante e um reconhecimento do trabalho da autarquia nesta área. Como sabemos Óbidos é, desde há alguns anos, um paradigma na área da inovação cultural que tem contribuído para o reconhecimento desta vila quer a nível nacional quer internacional.
Foi igualmente importante que Caldas da Rainha tenha sido a primeira cidade portuguesa a fazer parte da Associação das Cidades Históricas com Termas em 2015 e que faça inclusive parte do respetivo Conselho Diretivo.
A recente notícia de que Caldas da Rainha vai avançar com a candidatura à rede de cidades criativas da Unesco, tendo por base a produção artística e artesanal da cerâmica, é mais um passo para a promoção e o reconhecimento internacional da cidade e da região.
Os processos de geminação com cidades de outros países também estão em crescimento na região e são mais uma forma de troca de experiências e de promoção da região.
Finalmente destaco o processo de candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura, em 2027, como uma oportunidade de mobilizar a região para a preparação de uma candidatura dinâmica e inovadora que possa potenciar o valor desta região a nível Europeu. E, como o coordenador da candidatura, João Serra, disse à Gazeta o processo relacionado com a candidatura “é tão ou mais importante que o próprio resultado”.
Paulo Lemos
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