
Jorge Mangorrinha
arquiteto
O mito do sebastianismo cumpriu-se nas Caldas da Rainha.
À terceira tentativa em que a cidadania teve agenda política (2001, 2013, 2021), o pleno sucesso manifestou-se, com a conquista da presidência da Câmara. Vítor Marques soube preparar um caminho, tornou determinantes os seus pontos fortes face a algumas fragilidades e sabe que todos nós somos mais do que a soma das partes.
Apesar de os debates e as entrevistas terem sido pouco estimulantes; apesar das listas colossais de intenções; apesar de o presidente eleito nunca ter justificado abertamente a sua libertação do grupo social-democrata que serviu e que o serviu; apesar de nunca ter falado do “Plano Estratégico de Desenvolvimento Caldas da Rainha 2030”, realizado externamente e que custou – segundo consta e salvo melhor opinião – cerca de 70.000 euros, porém, parte da população que votou quis mudar, confiando-lhe o voto. Mudar foi a palavra-chave, que terá substituído a leitura do programa, chegando para vencer.
O projeto de Vítor Marques começou por ser pessoal para atingir a presidência da Câmara, pretensão legítima, aliás, e que nunca a renegou. Por diferentes fatores, presentemente, só ele tinha condições logísticas para o fazer, pelo seu carisma e por congregar apoios financeiros e muitos daqueles que, por descontentamento, se aliaram e outros que, anonimamente, votaram. Ao querer ser presidente da Câmara, adiantou-se a 2025 e à mais do que provável disputa com o presumível candidato do PSD e sucessor de Tinta Ferreira. Vítor Marques arriscou e ganhou. E ganhou para um, dois, três mandatos, se souber governar, até porque os principais partidos estão secos de quadros, por culpa própria e por autofagismo. Contudo, este movimento também secará outras eventuais e futuras iniciativas cidadãs, a menos que haja falhas e um forte pretexto.
Vítor Marques granjeou muito voto de protesto, a que se deve juntar o voto sebastiânico, quando o povo encontra o rosto e uma espécie de palavra da salvação, mais do que o alinhavado do Programa.
Se o presidente eleito quiser ser moderno, mesmo sem formação e visão multidisciplinares, mas com experiência gestionária diversa, poderá fazer da prática autárquica um exercício de inteligente convergência entre todos os eleitos, aliás, o seu Programa deveria apenas concluir-se nos contributos de outras forças representadas. Esta será uma virtude de um autarca à altura dos desígnios do seu território.
Deposito em Vítor Marques os resultados da minha (truncada) experiência autárquica e dos meus escritos de 30 anos, que têm sido os meus sonhos em matéria de Cidade Termal. Estarei atento ao caminho e, também, confiante de que até ao ano do Centenário da Elevação a Cidade (2027) se cumpra para as Caldas esse estatuto: – Reabrir plenamente a atividade termal quanto antes. – Avançar para o projeto e a obra de um estabelecimento termal de raiz, com estimulante contemporaneidade formal e funcional. – Ter um diretor-geral verdadeiramente com conhecimentos sobre as termas e o conceito de cidade termal, a nível nacional e internacional, e ser leal aos princípios traçados pelo executivo camarário. – Procurar um parceiro nacional ou internacional absolutamente competente para a gestão do complexo termal. – Ver este desafio à escala da cidade e não apenas das instalações termais. – Finalizar e operacionalizar o Plano de Pormenor do Centro Histórico. – Preservar e dar usos adequados ao Parque e à Mata. – Renovar, nominalmente, a representatividade nas associações nacionais e internacionais de redes de estâncias termais. – Ter presente os mais desfavorecidos, bem como estimular o acesso dos residentes no concelho às termas. – Constituir, atempadamente, uma comissão para as Comemorações do Centenário da Elevação a Cidade.
E, para além destas 10 sugestões, tudo o mais à escala do concelho se torna correlacionado com a cidade, pois, tal como na feliz mudança em Lisboa – o meu presidente, por via profissional –, espera-se que, nas Caldas, haja uma voz à distância de um telefonema ou um olhar presencial, sem esperas, sem rodeios e sem embustes. Não se esperam grandes rasgos, mas espera-se o cumprimento da palavra dada. E isto conta cada vez mais em política. ■