O ponto de partida deste livro de Ruy Ventura (n.1973) está na página 63: «Não pretendo ser exaustivo neste ensaio sobre Fátima. Tenho por isso a vantagem de abordar apenas aqueles textos cujo interesse se mostrou mais saliente a meus olhos.» Já na página 29 tinha advertido: «Se as civilizações vão mudando, a cultura permanece. E não há cultura sem culto.»
Mas o olhar pessoal do autor insere-se no olhar geral: «O estatuto do acontecimento-Fátima tem evoluído. A quase impossível indiferença perante o que há de enigmático e de misterioso no relato de três crianças tem gerado adesões, delírios e rejeições, os quais vêm originando desde a sua apropriação e reelaboração sectária por grupos integristas à sua manipulação e ao seu desprezo por correntes e agentes que não aceitam e combatem a crença.» Num certo sentido Ruy Ventura responde ao desafio de Natércia Freire: «E os símbolos, os sonhos, as visões, / – sonâmbulas manhãs de nuvens altas / Clamam quem os decifre, quem os leia». Já o Papa Francisco em 2013 referiu: «Trata-se de uma verdadeira “espiritualidade encarnada na cultura dos simples”.
Não é vazia de conteúdos mas descobre-os e exprime-os mais pela via simbólica do que pelo uso da razão instrumental e, no ato de fé, acentua mais o credere in Deum que o credere Deum. É “uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários”.» Por outro lado o poeta Paul Claudel conclui: «Fátima é um arrombamento. É uma irrupção brutal, diria quase escandalosa, do outro mundo através das fronteiras inoportunas deste. Já não estamos prante intérpretes e mensageiros, nem prante confidências ou comunicações a algumas almas eleitas a coberto do sono, do êxtase ou da noite.»
Sabendo que não possível resumir um livro de 246 páginas em 26 linhas de A4, ficam algumas pistas de leitura e uma dupla nota final. Por um lado as páginas 187 a 203 integram um poema dramático de Ruy Ventura no qual o caminheiro se transforma em peregrino. Entretanto o conjunto das imagens das páginas 219 a 238 constitui-se como uma belíssima embora breve fotobiografia de Fátima e da sua História.
(Editora: Santuário de Fátima, Prefácio: Marco Daniel Duarte, Capa: Azinheira Grande (foto de 2018), Design e Paginação: Inês Duarte)