Zé Povinho leu a notícia sobre o lançamento de uma petição para ser criado um acesso pedonal e ciclovia que ligue Alfeizerão e São Martinho do Porto e, por isso, cumprimenta o dinamismo da Junta de Freguesia de Alfeizerão na tomada desta iniciativa.
É certo que a autarquia de base não tem capacidade nem competência para fazer a obra numa estrada cuja responsabilidade é da Infraestruturas de Portugal. Então encontrou na petição pública uma forma de fazer pressão na reivindicação desta ideia antiga dos seus fregueses.
Zé Povinho conhece aquela estrada e sabe que os motivos que levam a este pedido são reais e concretos: a circulação a pé e de bicicleta de inúmeras pessoas diariamente – inclusive jovens e idosos – numa estrada sem passeio e onde o limite é de 90 quilómetros por hora.
Por outro lado, isto poderia, logicamente, retirar algum tráfego rodoviário deste percurso, especialmente de São Martinho do Porto, no Verão. Acresce ainda que não se trata de uma grande obra: são pouco mais de três quilómetros. E servia de exemplo a muitos outros lugares.
Exigiam tudo e nada. Algumas das reivindicações eram contraditórias e outras incompreensíveis à luz do senso comum dos seres que vivem no velho rectângulo mais ocidental da Europa. E, quando as exigências são muitas até o mais pobre desconfia.
Confundiam momentos da História recente do país, comparando acintosamente o período da ditadura com os 44 anos de democracia. Mesmo as afirmações anti-sistema, como as que proferiam, fizeram-nas através dos écrans das televisões e sem risco.
Estes coletes amarelos, cópia apressada do movimento francês (e em que também se ouviam queixas em português), retratavam aquilo que não era comparável, tentando levantar a população sem razão recente.
Nos últimos anos muito tem sido reposto, desde cortes inexplicáveis de salários e de pensões, suspensão de feriados, diminuições de poder de compra que acarretaram encerramento de empresas e mais desemprego, apesar de ainda bastante faltar.
Os mobilizadores deste movimento, até poderiam ou poderão vir a ter algum sucesso, se as elites políticas actuais permanecerem num certo convencimento de que tudo é possível sem uma explicação mais séria e se continue a permitir a alguns que exagerem na ida ao pote.
Se bem que alguns comentadores mais argutos tenham defendido, com alguma razão, que muitos dos que falam da corrupção, são daqueles que mais beneficiam ou beneficiaram com a mesma, de forma encapotada ou envergonhada.
Exige-se assim que a sociedade assuma cada vez mais uma postura de responsabilidade e de corresponsabilidade pela coisa pública.
É evidente que não são muitos os que chegam às primeiras páginas dos jornais pelas acusações de corrupção grave, contudo os que surgem dão uma imagem doentia da sociedade portuguesa, que ainda é carente nas questões mais básicas da vida.
Por tudo isso, os coletes amarelos, especialmente aqueles que vieram dar a cara pelo pseudo-movimento “Vamos parar o país”, não conseguiram mobilizá-lo a exemplo do que se fez em França.
Daí que a maioria dos portugueses os tenham deixado sozinhos a pregar no deserto.