A semana do Zé Povinho – 3-04-2020

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Zé Povinho é um pessimista irritante militante desde a sua criação, pelo que é admirador daqueles que, pelo contrário, são optimistas irritantes, como é o caso do primeiro-ministro, António Costa, no dizer de muitos, nomeadamente do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Mas, face à pandemia que veio deixar o mundo irreconhecível, tem apreciado a forma como o chefe do governo se tem comportado, não evitando todas as frentes e tentando com optimismo moderado enfrentar a mais dura crise que Portugal (e o Mundo) viveu nos últimos séculos.
Daí que Zé Povinho ainda tenha apreciado mais o primeiro-ministro quando disse, sem qualquer tibieza ou hesitação, que considerado o discurso do ministro das Finanças da Holanda como “REPUGNANTE” no quadro da União Europeia e repetiu, para não haver dúvidas: “R-E-P-U-G-N-A-N-T-E”!
Segundo António Costa, para que não restassem quaisquer ideias tímidas, considerou aquelas afirmações do ministro holandês como de “uma absoluta inconsciência” e uma “mesquinhez recorrente” que “mina completamente aquilo que é o espírito da UE e que é uma ameaça ao futuro da UE”.
Não admira, por isso, que os nuestros hermanos, da vizinha Espanha, tão assolada pelo coronavírus, se tivessem reconhecido nas palavras do governante português, deixando-lhe os maiores elogias da solidariedade demonstrada, no momento que o país enfrenta a sua maior crise dos últimos séculos.

 

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Wopke Hoekstra, ministro das Finanças da Holanda, não esperava, certamente, a reacção tão dura e veemente do primeiro-ministro português, pelas afirmações que fez no Conselho Europeu sobre a Espanha e os países do sul da Europa. Alguns dias depois já veio fazer a sua autocrítica, justificando-se. “Não fomos empáticos o suficiente”, assumiu, dizendo que “apelar à solidariedade faz sentido” reforçando que “uma UE forte também é do interesse da Holanda”.
O problema para a Europa Unida e para os países mais atingidos pela pandemia é que, lá no fundo, tanto o ministro holandês, como os seus congéneres da Áustria e Finlândia, bem como de uma forma mais comedida o seu colega alemão, não vêem com bons olhos a proposta dos Coronabonds, ou seja, de uma emissão de dívida partilhada que permita a reconstrução da Europa depois de tão significativa tragédia.
Provavelmente o ministro holandês não esquece que a Espanha foi potência colonizadora do seu país até ao séc. XVI e não perdoa que hoje a situação económica em Espanha seja muito pior que a da Holanda, talvez por “causa dos copos e mulheres”, como disse o seu antecessor durante a crise de há uma década.
Zé Povinho não gosta destes jovens ministros que dizem tudo o que lhes vem à cabeça não entendendo o momento grave que a Europa e muitos dos seus países, especialmente do sul passam. Uma União Europeia implica solidariedade e ajuda mútua em questões concretas e não apenas em grandes declarações. Essa é a base da construção europeia. Sem isso, o que sobra?