A Semana do Zé Povinho – 24/06/2016

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É verdadeiramente significativo ouvir uma refugiada que passou pelas Caldas na primeira metade dos anos 40 do século passado, quando hoje uma nova discussão que está na ordem do dia é também sobre os refugiados na Europa.


sobeCertamente que a origem social e territorial e as razões dos refugiados de hoje é muito diferente daqueles que durante a 2ª Grande Guerra fugiam do fascismo e dos fogos crematórios. Ou ainda daqueles que abandonavam Portugal nos anos 60 e 70 para não fazer a guerra colonial que também consideravam injusta.
Mas se a génese e o significado são semelhantes, hoje os interesses em jogo são muito diversos, bem como o aproveitamento que é feito por outros “refugiados” motivados por razões exclusivamente económicas, facto que gera contradições que vão pesar no resultado do referendo no Reino Unido para a saída do União Europeia, que foi a votos, quinta-feira, dia 23 de Junho.
Zé Povinho aprecia verdadeiramente a senhora Blanchette Fluer, bem como outros refugiados que, de vez em quando, voltam aos países onde foram felizes quando a Europa estava a ferro e fogo.
Apesar de um certo alinhamento e complacência do governo de Salazar com os poderes fascistas europeus, mesmo assim fruto das inúmeras contradições e de atitudes verdadeiramente heróicas tomadas por alguns diplomatas portugueses no estrangeiro, Portugal foi um paraíso para muitos que podiam ter sido levados para os fornos de Auschwitz.
Todos eles que passaram por Portugal elogiam o povo simples que os recebeu com coragem e verdadeira compreensão, e que partilhou com eles os parcos recursos que nessa época de crise tinham.
Zé Povinho elogia o verdadeiro reconhecimento desses refugiados, como é o caso de Blanchette Fluer, que veio às Caldas mostrar a sua gratidão. Bem haja para que os contemporâneos percebam melhor a crise daqueles que fogem da Síria, Afeganistão, Iraque, etc.

desceÉ uma das coisas comuns em Portugal e Zé Povinho escuta-o desde sempre. O passa-culpas. Mesmo entre, ou principalmente entre instituições públicas, a prática é normal e permanente.
No caso em presença e referido nesta edição da Gazeta das Caldas, esse passa-culpas é sintomático e verdadeiramente significativo, apesar da importância ser diminuta. Mas, no mínimo, é uma questão de má imagem que Portugal dá aos seus visitantes. Zé Povinho está a falar naturalmente da situação a que chegou a estação ferroviária de Óbidos.
Em 1999 a REFER assinou com o presidente da Câmara Municipal de Óbidos de então, o socialista Pereira Júnior, a arrendar aquele edifício semi-abandonado em condições leoninas para o município. Este tem de pagar renda, fazer obras, garantir a manutenção do edifício, jardins e sanitários públicos, fornecer água, luz e telefone, sem qualquer contrapartida. Mais é obrigado a fazer um seguro para garantir a segurança do edifício. O objectivo era simples: utilizar a título precário o edifício para ser “utilizado exclusivamente na prossecução dos fins sociais, culturais e turísticos”. No final todas as obras e mais valias ingressavam na REFER sem qualquer contrapartida.
Passaram quase 17 anos, o edifício foi emprestado durante algum tempo a uma associação de produtores florestais e nunca teve qualquer outra utilidade.
Os utentes da CP que utilizavam a estação viam progressivamente as instalações degradarem-se e a REFER – agora Infraestruturas de Portugal – apenas diz que transmitiu à Câmara a situação, nunca tendo assumido a posição que era exigida da reversão do contrato para que os seus utilizadores da ferrovia fossem devidamente servidos.
Afinal aquela situação convinha a todos, excepto aos passageiros da CP, que são os principais interessados numa boa prestação de serviços pelo operador público e pela autarquia. Foram poucos provavelmente, mas mesmo assim levaram de Portugal e da vila turística uma má imagem, que nos tempos que correm é indesculpável.
Para não passar as culpas uma vez mais, quer para autarcas passados ou para os actuais, como para a empresa de serviço público, Zé Povinho responsabiliza-os a todos, mostrando mais um exemplo português de incúria e irresponsabilidade.