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Sector mentaliza-se para repetição de cenários idênticos aos da crise de 2008 com quedas abruptas das vendas, mas do estrangeiro vêm sinais animadores de que a retoma pode ser mais rápida

Os grupos Auto Júlio, Lubrigaz e Nov Automóveis representam nas Caldas da Rainha um universo de 12 marcas automóveis e retratam à Gazeta das Caldas as consequências que a pandemia de covid-19 teve no sector.
A mais dramática das consequências foi uma quebra “brutal” das vendas, observa Luís Barros Rodrigues, directores da Lubrigaz nas Caldas da Rainha. A redução para esta empresa ronda os 80%, adianta aquele responsável pela empresa. A isso juntam-se quebras entre 30 a 40% no serviço de após vendas.
Na Auto Júlio, nos três meses que o estado de emergência obrigou a encerrar portas, regista-se de 60%, só nas vendas. Já no grupo Nov Automóveis, a redução foi de 30% em Março, 85% em Abril e 73% em Maio nas vendas, refere fonte oficial da empresa, acrescentando que se verificou “uma quebra muito acentuada nas entradas e na facturação” no serviço de após-venda.
A quebra na facturação e a obrigatoriedade de fechar os stands de venda ao público levaram as empresas a recorrer a lay-off, também os serviços de oficina foram limitados.
Além destas consequências directas, fonte oficial da Auto Júlio salienta ainda dois aspectos: “a redução abrupta dos índices de confiança dos consumidores” e a redução de procura pelos serviços de manutenção e colisão, como consequência da redução da circulação nas estradas.
Já na reabertura, o sector confrontou-se, como tantos outros, com a implementação de medidas de controlo sanitário de modo a garantir a segurança e a confiança de colaboradores e clientes. Estas regeram-se pelo protocolo da Associação Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e inclui a utilização de máscaras por todas as pessoas dentro das concessões, a restrição nos fluxos de passagem, a medição de temperatura, a contínua higienização de todos os pontos de contacto e das viaturas de forma constante, a aplicação de sinalização, a criação de corredores de acesso, entre outras.

BONS SINAIS DO ESTRANGEIRO

Até meados de Março, o mercado automóvel estava a dar bons sinais, estabilizando em números idênticos aos do ano passado.
No entanto, na Lubrigaz havia sinais de crescimento, devido a mudanças no importador. A SIVA, responsável pela importação dos automóveis do grupo Volkswagen, estava em dificuldades financeiras e foi adquirida pela Porsche Holding, que estava numa fase de investimento forte. “Tínhamos mais verba para publicidade, mais linha de crédito para aquisição de automóveis e estávamos a crescer em relação ao ano passado”, refere Luís Barros Rodrigues.
Agora, o futuro a curto e médio prazo é agora uma incógnita para as empresas do sector e obriga a fazer uma navegação à vista.
Luís Barros Rodrigues, da Lubrigaz, refere que a rede Volkswagen está a receber, através do importador, retratos da realidade em países que avançaram com o desconfinamento antes de Portugal.
Nesses países, houve uma procura grande pelo mercado de usados e semi-novos e depois o mercado de novos começou igualmente a crescer, atingindo números próximos dos que se estavam a verificar antes da pandemia se iniciar.
“Nós estamos a verificar essa procura pelos semi-novos, e carros de serviço, portanto a expectativa é que nos novos seja a tendência seja idêntica”, realça, acrescentando que já voltou a existir procura nos stands e retomar de negócios interrompidos na área dos veículos comerciais. No entanto, acrescenta, há ainda nuvens cinzentas no horizonte, uma vez que grandes empresas estão ainda fechadas devido a contágios.
A Auto Júlio realça que o futuro vai depender da evolução da própria doença, nomeadamente o surgimento de mais ondas de contágio, ou uma vacina, e também do próprio nível de confiança dos consumidores.
A Nov Automóveis partilha visão idêntica e acredita que o mercado de semi-novos vai retomar mais rapidamente que o de novos.
Sem certezas sobre a duração da crise, as empresas acreditam na capacidade de resiliência já demonstrada com quebras muito acentuadas na crise que se arrastou de 2008 a 2013. Se nessa altura o sector foi obrigado a realizar grandes reestruturações, agora poderá ter que o fazer novamente, depois de se ter recomposto. “Será uma necessidade imperial reduzir estruturas de vendas” caso a diminuição do mercado assim exija, refere fonte da Auto Júlio.
A Nov Automóveis remata: “acreditamos que conseguiremos mais uma vez estar à altura de um desafio que, infelizmente, ninguém estava à espera, nem preparado”.

Oeste passou dos míninos a vendas recorde em cinco anos

As vendas de veículos novos – incluindo ligeiros de passageiros, comerciais, pesados e tractores – atingiram em 2018 os melhores níveis desta década no Oeste, ultrapassando as 10 mil unidades. Os dados de 2019 ainda não estão disponíveis, mas apontam para uma estabilização.
Para o sector, foram cinco anos de retoma e crescimento dos níveis de vendas, que permitiram atingir os melhores registos dos últimos 15 anos, após a crise de 2008.
Nessa altura, o sector viu as vendas reduzirem de cerca de 8500 unidades para pouco mais de 2700, nos anos de 2012 e 2013.
Até 2017, as vendas na região sofreram um crescimento rápido (64%, 35%, 29% e 30%), atingindo valores máximos deste século em 2018 com um crescimento mais moderado, de 6,7%.
Já este ano, a venda de viaturas novas no Oeste estava a evoluir em linha com os dados nacionais, que até Fevereiro perdia 1,29%, segundo a Associação Nacional do Ramo Automóvel, com níveis de vendas do início do início deste século. No mês de Março, no qual à segunda quinzena os concessionários fecharam portas, as quebras ao nível do país atingiram os 57% em relação ao mês homólogo do ano passado, aumentando as perdas em Abril para 87%, situação que levou as empresas a reclarem a reabertura ao governo.

Quebras nos usados em sintonia com os novos

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No mercado de usados a situação não é muito diferente em relação ao dos novos, com quebras próximas dos 80%, é o retrato feito pela Benecar e pela Marketcars, duas empresas de dimensão diferente. A confiança dos consumidores vai ditar o que será o resto do ano

A Benecar, na Benedita, é uma das referências nacionais no comércio de automóveis usados. O início do ano estava a ser de forte crescimento de vendas, cerca de 25% no primeiro trimestre do ano em relação a igual período do ano passado, revela Nuno Veríssimo, diretor-geral da empresa.
O comportamento da Benecar reflectia “uma conjuntura favorável, que foi bruscamente interrompida e agora só as empresas mais preparadas, estruturadas, e capacitadas conseguirão sobreviver”, acrescenta. As vendas caíram “em linha com a queda que se fez sentir no sector automóvel em Portugal”, observa Nuno Veríssimo.
A Benecar respondeu com uma reorganização operacional e estratégica. As regulamentações do governo obrigaram ao encerramento das instalações físicas, mas não interrompeu o seu funcionamento.
“Decidimos aumentar a estrutura e o horário de atendimento do nosso call-center das 9h00 às 23h00, com o forte propósito de relação e proximidade com o cliente e, desta forma, ficámos mais capacitados para o contactar e satisfazer as suas dúvidas”, refere o gestor.
Além disso, os clientes continuaram a ter acesso a demonstrações aos veículos, através de vídeo-chamada, entre outras iniciativas que permitiram manter actividade, incluindo a implementação do serviço de entrega na morada de cliente sem custos adicionais, em todo o país.
Esta estratégia assentou igualmente na capacidade para trabalhar online, canal que se assume “importância determinante na dinamização do negócio há alguns anos a esta parte”, refere Nuno Veríssimo.
Uma estratégia que o responsável pela comunicação da Benecar acredita que terá que ser seguida pelas empresas do sector. “Fruto desta conjuntura, e com as restrições que lhe são naturais, as empresas que não investiam tanto neste domínio serão forçadas a fazê-lo de forma muito célere”, adverte.
O que também contribuiu para a resposta da empresa foi a forma como está organizada. “A nossa Cidade Automóvel permite-nos articular uma série de serviços, desde o acolhimento do cliente, o financiamento, o seguro, à garantia, à retoma, à documentação e à entrega do veiculo, que garantem a concretização do negocio praticamente em tempo real”.
Agora, novamente com as portas abertas, as empresas do sector precisam de ajustar procedimentos, à imagem do que acontece no mercado dos novos e noutros sectores de actividade.
Na Benecar, um vídeo na recepção explica os procedimentos a tomar pelos visitantes. O uso de máscara é obrigatório e a empresa disponibiliza-as a quem não tenha. As viaturas estão fechadas e devidamente higienizadas. Em caso de test drive, há uma zona especifica para o cliente deixar a viatura e esta só é reposta em exposição depois de devidamente higienizada.

CONFIANÇA VITAL

A realidade não é diferente para as empresas de menor dimensão. Pedro Paiva, da Marketcars nas Caldas da Rainha, realça que o medo é um dos principais condicionantes aos negócios, de forma transversal, por isso todos os cuidados que os stands possam ter para garantir tranquilidade aos clientes são essenciais.
Como o parque da empresa é ao ar livre, as restrições nesta área são menores, mas, mesmo assim, por ser uma actividade que envolve diálogo e alguma proximidade com o cliente, Pedro Paiva obriga o uso de máscara, que proporciona a quem não tenha, tanto nos espaços abertos como fechados. Os carros são vistos por fora, o interior fica reservado para fases mais adiantadas e sempre com protecção das zonas de contado e posterior higienização. Ao escritório, os clientes só acedem em caso de necessidade.
Pedro Paiva fala em quebras alinhadas com o mercado em geral, entre os 80 e os 90% após meados de Março. Até então, também assume que estava a ser um ano bastante positivo e de perspectivas animadoras.
“Via-se as pessoas com confiança e vontade, a economia estava a mexer. Mas isto veio quebrar tudo o que estávamos a fazer até então”, lamenta.
Apesar disso, Pedro Paiva já nota algum movimento. Contudo, acredita que a recuperação vai ser lenta. “As pessoas não sabem só uma segunda vaga e depois é falta de confiança no mercado, porque ninguém, sabe o que vai acontecer. Mesmo quem tenha dinheiro, a decisão de comprar será sempre muito mais ponderada”, refere.

Comércio e reparação de automóveis vale mais de 20 mil milhões de euros

Tal como se verificou no Oeste, 2018 foi ano de recordes para o sector automóvel. O volume de negócios atingido pelas empresas de comércio, manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos atingiu um máximo de 21,8 mil milhões de euros, mais 1,5 mil milhões do que no ano de 2017, o que corresponde a um aumento de 6,9%.
Apesar de não existirem ainda dados definitivos oficiais, 2019 terá sido um ano de estabilização, com valores que andarão entre os verificados em 2017 e 2018.
Desta forma, 2018 representa uma nova referência máxima para um sector que sofreu uma diminuição vertiginosa das suas receitas entre 2010 e 2012, de 19,9 para 11,9 mil milhões de euros, e 19,7 mil milhões em 2013. A partir de 2013 o mercado tem recuperado de forma cadenciada, cerca de 2 mil milhões de euros ao ano até 2018.
O sector continuou em crescimento até meados de 2019, segundo a ANECRA, mas corrigiu a subida e já se encontrava em perda ligeira em Junho e Julho do ano passado, os dados mais recentes disponíveis.
Este é, indiscutivelmente, um sectores importante em termos da receita do Estado, que entre 2014 e 2018 aumentou a receita por via do Imposto Sobre Veículos em 300 milhões de euros, de 466 milhões para 767,1 milhões, o que corresponde a uma evolução acumulada próxima dos 33%. Em Julho de 2019 o imposto colectado atingia os 462 milhões de euros, menos 2,2% do que em igual período de 2018. Recorde-se que, contra as recomendações da União Europeia, o Estado Português cobra ainda IVA sobre o ISV, o que significa que o encaixe total com este imposto é ainda mais significativo.

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