O Oeste (e as Caldas) merece um melhor transporte ferroviário

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Os países desenvolvidos caracterizam-se por apresentarem economias muito competitivas e uma elevada qualidade de vida, proporcionada por bons sistemas de saúde e de educação. Uma outra característica destes países é a elevada mobilidade da sua população e por isso apresentam boas e densas redes de transporte. Pode-se mesmo afirmar que os transportes, sobretudo os colectivos, desempenham um papel muito importante na estruturação destas sociedades, reflectindo-se positivamente no ambiente e qualidade de vida e em territórios menos assimétricos.

Portugal, que integra a lista dos países mais desenvolvidos na maior parte dos indicadores económicos e sociais, apresenta, no entanto, muitas assimetrias territoriais. Por exemplo, nos transportes terrestres, ao lado de uma rede rodoviária densa e moderna tem, na maior parte do país, uma rede ferroviária que tem vindo a encolher e que na maioria das linhas sobrantes apresenta imensos arcaísmos. É o caso do Oeste e Alta Estremadura. A região, que é densamente povoada (cerca de 500.000 habitantes) e possui uma rede urbana de razoável dimensão (Mafra, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Alcobaça, Marinha Grande e Leiria), é servida por um conjunto de vias rodoviárias modernas (A8, A17, A15 e IP6), mas em termos ferroviários é servida por uma via (linha do Oeste) que praticamente desde a sua construção não conheceu melhoramentos significativos, para além da manutenção da superestrutura (carris e travessas). Continua a ser de via única e não electrificada, e nela circulam comboios obsoletos (mais de 50 anos nalguns casos), que avariam constantemente, traduzindo-se em viagens lentas e pouco fiáveis.
Para comprovar esta realidade, compare-se as frequências (número de comboios) e os tempos de viagem entre Lisboa e o Entroncamento, através de uma linha relativamente modernizada (linha do Norte), e Lisboa e Caldas da Rainha, através de uma linha arcaica (linha do Oeste).
O Entroncamento possui 30 frequências com destino a Lisboa, com tempos de viagem que medeiam entre os 52 minutos em comboio Alfa Pendular e 1h23 em comboio Regional. Caldas da Rainha tem 7 frequências com destino a Lisboa, com tempos de viagem que medeiam entre as 2h23 e 2h38 em comboio Regional­/Urbano.
O Entroncamento dista 106 quilómetros de Lisboa e Caldas da Rainha 105. Ou seja, na linha do Oeste, uma viagem em comboio regional (o único serviço que permite comparação) demora mais 1 hora a percorrer a mesma distância, registando Caldas da Rainha menos de 25% de frequências do que o Entroncamento.
Ou seja, se a linha do Oeste fosse electrificada, o que permitiria a utilização de comboios mais modernos e rápidos, a cidade de Caldas da Rainha poderia distar menos de 1 hora de Lisboa, caso a viagem fosse realizada num comboio Intercidades ou pouco mais que isso se se tratasse de um comboio Regional. Mas para além do tempo, outros ganhos existiriam, nomeadamente ambientais e financeiros, pois um comboio eléctrico quase não emite CO2 ou outros gases poluentes e os custos de operação são muito mais reduzidos.
Em síntese, electrificar a linha do Oeste é um investimento prioritário para toda a região, sobretudo para as populações, que passarão a ter mais qualidade de vida pelo facto de a sua mobilidade ser menos poluente, menos onerosa, mais fluída e mais rápida. Seremos nós, cidadãos da região Oeste, capazes de fazer esta exigência aos políticos que nos governam?

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Paulo Fonseca
Membro do GAFA (Grupo de Apoio à Ferrovia Aberta)

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