Foi meu professor de desenho e director da Escola Industrial e Comercial de Caldas da Rainha.
À semelhança dum outro grande professor, a quem eu um dia “acusei” de ser o principal responsável pela minha paixão pela matemática e pela física, não posso deixar de lembrar o mestre, e em espírito formular semelhante acusação em relação à expressão plástica, em particular em relação ao desenho e à pintura. Procurou inclusive junto do meu pai, que eu seguisse um curso ligado às artes, mas o apelo da ciência e da técnica foi mais forte. Agradeço-lhe por tudo, do fundo do coração.
Há episódios da nossa vida que nos marcam e acompanham e que nunca esqueceremos. O que vou relatar passou-se nos idos anos sessenta (67/68), tínhamos nós 13 ou 14 anos, e deixo-o hoje registado para memória futura, pela faceta que o Professor Eduardo Loureiro revelou e me impressionou, de Homem integro e de grande honestidade intelectual.
Quando frequentava o Curso de Formação Montador Electricista, tivemos um professor com comportamentos pedófilos e que viemos a saber, perseguiu colegas da nossa turma e do ano anterior.
Acontece que um colega e grande amigo, estava a ser alvo de chantagem por parte desse professor, ao ponto de ameaçar pôr em causa o direito ao trabalho dum familiar mais próximo (que por acaso também dependia dele), caso não ficasse calado.
A situação estava a ficar moralmente insustentável. Foi então que nos juntámos quatro (?) colegas e fomos junto do Professor Loureiro, contar o que se passava.
O Professor Loureiro não duvidou das nossas palavras. Chamou-nos ao seu gabinete (só não me recordo se com o colega vítima da chantagem ou não), na presença da Professora Margarida (directora de turma) e do tal professor. Fez-lhe uma acareação e não teve dúvidas do que se estava a passar. O professor foi afastado da nossa escola, não me recordo se também do ensino.
Esta lição de sentido de justiça ficou-nos na memória, qual aula prática muitas vezes repetida. Foi para além disso, uma atitude muito corajosa por parte dum director de escola numa época de “brandos costumes”, onde uma “esponja por cima do assunto”, teria certamente passado bem mais despercebida.
Quando passaram ao domínio público há alguns anos os casos de pedofilia mais falados, não resisti e telefonei ao Professor Loureiro. Atendeu-me a esposa, Mme. Nicolle, com quem nunca tinha falado pessoalmente mas que de imediato me associou à história que acabo de relatar. Também para o Professor Loureiro, esta história nunca se apagou da memória. E ainda bem.
Ajudado pela reprodução do Sto. António de 1959 de sua autoria que guardo religiosamente, recordá-lo-ei sempre com muito respeito e muita saudade.
Carlos Mendonça