Teatro da Rainha, à procura de (+) público

0
789
- publicidade -

Com este piscar de olho a Pirandello inicio esta nota sobre o excelente espectáculo que um dos melhores grupos de teatro do nosso país, sedeado em Caldas, proporcionou a muito poucos felizardos.
Na tripla qualidade de dramaturgo, falhado é certo, a peça de teatro que escrevi jaz no fundo do baú e no arquivo de um concurso, de actor principal quase chumbado (no fim do curso ousei interpretar o actor principal numa peça que criticava usos e costumes dos professores de Letras… pois um deles assistiu e enfiou a carapuça, ia-me chumbando!) e amante e crítico ocasional de teatro, o venho aqui referir.

No dia 20, cerca de 25/30 pessoas (dentro da média do espectáculo, como me disseram), a grande maioria jovens alunos de teatro da ESAD, assistiram a excepcionais monólogos, soberbamente interpretados, e todos eles (textos) remetendo-nos para nós e o tempo que vivemos, o do curto-prazismo, fantasma que percorre a Europa e o nosso mundo.
Com cenários de grande sobriedade e um excelente programa (e volto a referir aqui o programa miserável do Teatro Nacional, na também excelente peça de Ibsen, “ O Pato Selvagem”, e o desafio que deixei ao Teatro da Rainha para uma adaptação do ”Inimigo Público” também de Ibsen, que remete para…as nossas termas!).
A seguir à peça, no dia 20, houve um interessante e útil debate com os actores, que se prolongou por quase uma hora, onde se falou de algumas ligações dos textos, que rompem com o tal curto-prazismo e a lógica do momento e nos remetem para a densidade da vida e da sua realidade e entorno, e foi comentada a alta qualidade  dos textos, nem todos fáceis é certo, e  nalguns momentos a requererem esta explicação ou a serem melhor  iluminados por este debate.
Tenho que verberar o público nas Caldas, e até a “élite” local, que não está a dar a atenção devida e merecida ao nosso grupo de teatro. Bem sei que os monólogos (passamos a vida a ouvi-los, normalmente de políticos sem prazo de validade e já fora dele! E sem qualidade, esses) poderão ter assustado alguns, que optam por novelas deslavadas ou caça a piratas, palitos ou pilotos, ou até ao alienante zapping, em vez de ver arte e a sua ouvidoria  e se empenharem na discussão ou conversas que pode suscitar, além, para além do tal imediatismo.
Quem não viu este espectáculo, e sabe que “penso o que escrevo e escrevo o que sinto”, e me empenho no que julgo justo, perdeu um tempo de pausa e reflexão sobre o presente e o futuro e mais um momento em que se juntaram os vários tempos que fazem teatro. Cenários, textos, actores, direcção e inteligência.
O Teatro da Rainha continua em busca de Godot, agora a piscar para Beckett, seja ele o, ou mais, público.
António Eloy

- publicidade -

- publicidade -