Mário Rui Silvestre é autor de diversos registos literários (teatro, conto, ensaio, romance e historiografia) e surge neste livro («Edição comemorativa do V Centenário do Foral de Pernes e Alcanede») com 79 páginas e 31 poemas a homenagear os homens e as mulheres que, nascidos ou oriundos de Pernes segundo as suas palavras prévias «imprimiram neste chão o selo da sua individualidade, desengano da fortuna, ironia e coragem».
Neste inventário cabem por exemplo os padres António dos Reis e Luís Cardoso, nascidos em Pernes e vultos do século XVIII: «António dos Reis / e Luís Cardoso /nomes da cultura /de um país inculto /figuras do século dezoito / e do grande livro / dos portugueses idos». Tal como cabe Simão Froes de Lemos: «Simão Froes de Lemos capitão d´Infantaria / do exército português espírito curioso/ das antiguidades de Alcanede autor / da pouco lida «Notícia Histórica» / deixada por ele em manuscrito / que hoje às vezes ainda lemos.» Mas cabe também a figura de Bocage («Já Bocage não sou como fui outrora / Perto deste rio transparente e doce / Onde por Arselina o amor me trouxe / Nesse tempo antigo que recordo agora») tal como a guerra civil de 1834: «levantem-se as tropas / da guerra civil / nesta madrugada / fria como a peste / dezenas de mil / postos frente a frente / dom Miguel primeiro / e o irmão dom Pedro / em luta pelo pão / moído com medo / e grande canseira / roubado aos moleiros / cá desta ribeira / prá guerra civil». Outros poemas são memória viva de jogos de futebol, da excursão anual, da ida ao cinema ou do Carnaval mas o poema XXX pode representar todos os outros por ser uma síntese e integrar os nomes da infância, todos os amigos, todos os rostos, todo o pequeno mundo da Vida que passou: «Felisberta onde está? Onde está / Marília? Susette onde está / no francês de sa tête? / Onde estão / as rosas as rosas de um dia / o vento as varreu ao pó dos / monturos a idade a varrer / os amores os amores ocultos / sofridos passados não compadecidos / da frágil idade lá de tão longe / olha a triste viuvinha / que anda na roda a chorar…»
(Edição: Hipátia, Grafismo: Rui Cláudio Silvestre, Apoio: Junta de Freguesia de Pernes)